Eu estou muito cansado
De ter que levar esse tempo em minhas costas,
De precisar sorrir diante da alegria ilusória,
De sorrir mesmo quando cresce a solidão.
Eu estou muito cansado
Por correr em brasas um ritmo descalço,
Por amar e me enganar ao sonhar comunhão,
Por viver num espaço simulado.
Eu estou muito cansado
Por viver com um desejo impossível,
Por nunca ter sabido a razão que movimenta
E desejar esquecer o meu desejo.
Eu estou muito cansado
De buscar um centro ao universo
Num planeta que rola sem destino.
De encontrar em minha porta, todo tempo,
Fechaduras, trancas, guardas e indiferença.
Eu realmente estou muito cansado
Da fome e do medo, andar e correr,
De sonhar e viver restrito num amor.
De pensar e chorar e acabar caído no chão.
Eu estou muito cansado
De saber o pouco que me resta,
De pouco ver do muito que me mostram,
E de esquecer do nada que me espera.
Eu estou muito cansado.
De olhares cheios de angústia,
Do saber que é só ignorância,
De palavras jogadas ao vento
E do nada que tudo já se torna.
Eu estou muito cansado
Do tempo, espaço e consciência,
Do fogo, água, terra e vento
E do éter desconhecido esquecido.
Eu estou muito cansado
E que o céu me espere e perdoe
Pois o cansaço é o muito pouco que me resta
Da vontade de um dia... sei lá!
Meu cansaço é o retrato de meu tempo,
Que lá vai e se desmancha com o vento.
Eu estou muito cansado
E quero o que me resta nesse mundo
Num só tempo, sem espera e adormecido.
Eu estou muito cansado
E já basta essa história comezinha
De pautar a vida por desencantos.
Chega de viver voltando atrás
Por trilhas marcadas por lágrimas.
Rastro meu de sangue e lágrimas
Por esses velhos caminhos cansados.