segunda-feira, 14 de março de 2011

Quero Ser um Estereótipo!



A origem pode ser muito mais antiga, desde as festas de Baco na Roma antiga, ou muito antes, quem sabe. O fato é que a “Commedia dell’arte” soube consolidar com bom gosto e sucesso os mais célebres estereótipos de nossa sociedade.

Uma companhia era formada por até doze atores, cada um apresentando personagem tipificado no qual se especializava. As características físicas e psicológicas desse personagem eram exploradas até o limite em ilimitadas situações.

Cada personagem correspondia a um padrão e se vestia de acordo. Havia o Amoroso, o Velho, o Ingênuo, o Soldado, o Vigarista, o Fanfarrão, o Pedante, o Criado Astuto e assim por diante. Alguns personagens se imortalizaram, como o Arlequim e a Colombina, Polichinelo, Scaramouche, Capitão Matamoros e Pantaleone.

A razão para o sucesso desses espetáculos, desde os anos 1540 na Itália, é atribuída ao grande número de dialetos falados naquelas regiões, sendo os personagens logo reconhecidos por qualquer público no momento em que pisavam no palco, pois suas ações e reações eram antecipadas pela audiência, facilitando a comunicação.

Natural nas artes dramáticas, como respirar para os pulmões, o uso de personagens estereotipados está na maioria das situações dramáticas em todas as suas formas, seja cinema, teatro, televisão, música ou literatura. Como o seriado mexicano “Chaves”, o seriado Dallas, a atual e a anterior novela das oito, das seis e das sete, em Rambo, Batman, Terminator, Crepúsculo, Harry Potter, em toda parte os mesmos personagens estão lá, é só retirar a camada de verniz aplicada para contemporanizar o produto final.

Um exemplo de agora mesmo, percebido por Luiz Fernando Veríssimo, identifica: “Se entendi corretamente as apresentações, são 15 os “animais” do “zoológico”: o judeu tarado, o gay afeminado, a dentista gostosa, o negro com suingue, a nerd tímida, a gostosa com bundão, a “não sou piranha mas não sou santa”, o modelo Mr. Maringá, a lésbica convicta, a DJ intelectual, o carioca marrento, o maquiador drag-queen e a PM que gosta de apanhar...” numa crônica onde perdeu tempo falando do Big Brother Brasil.

Mas, afinal, cada um de nós também está em permanente processo para se tornar um estereótipo qualquer.

Quando você se forma numa boa universidade, depois se doutora, procura um emprego estável, busca se adaptar a um padrão exigido pelo mercado de trabalho, está em busca de seu próprio estereótipo. Em seguida procura os clubes, os bares, a parceira, a casa e o automóvel e tem os filhos que lhe correspondem e, por fim, acaba com uma família estereotipada que tem o fim esperado quando o divórcio dá o acabamento final ao seu tipo.

Nos detalhes particulares, cada um se molda a um estereótipo. Se é um militar, adota atitudes conservadoras e rígidas e se cerca de objetos e pessoas que combinam com seu estilo. Se é um professor, adota atitudes abertas e despojadas, assim como o vestuário e tudo em sua volta, cristalizando esses comportamentos com o avanço da idade. Se é seja lá o que for, procurará sempre consolidar seu personagem para ter um rótulo claro e assim ser facilmente aceito pela sua comunidade.

Principalmente no mundo em que hoje vivemos, tornar-se um estereótipo claro é essencial para a sobrevivência social, profissional ou sentimental.

Tendo cada um sua vida, composta de seu trabalho, família e relacionamentos, também se comunica com centenas de outras pessoas que pouco o conhecem, seja pelas redes sociais, seja pelas relações não propriamente pessoais no trabalho e em qualquer outra facilitada pela tecnologia. Assim, precisa ser imediatamente reconhecido como persona detentora de características específicas que interessem a outra persona e a mantenha próxima.
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Porisso nos enquadramos desde a infância, adotando vestuário e atitudes de uma tribo, depois quando jovens nos preparando para ser amáveis por alguém e quando adultos adotamos os padrões que facilitem nossa sobrevivência no meio social. Ou somos impelidos a nos enquadrar em uma dada faixa social, adquirindo por imposição suas características específicas.

De qualquer forma, por escolha ou por adaptação natural, procuramos nosso próprio estereótipo, semelhante e comum a milhões de outros seres humanos. 

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É fácil identificar em nós mesmos o estereótipo que nos caracteriza. A melhor técnica é a de comparação com o outro que nos cause estranheza. É preciso eliminar o preconceito e adotar alteridade como estado mental, procurando se colocar no lugar desse outro até que o compreenda como um estereótipo qualquer.
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Nesse momento, poderá, talvez, reconhecer os milhares de indivíduos iguais a ele que vagam pela face da Terra e os outros tantos que são tão semelhantes nós mesmos

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