segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Porco-espinho


FaceBook, Twiter, Orkut, Redes sociais.

Era uma vez uma comunidade de porco-espinho que dormia cada um no seu canto durante o verão. Quando chegava o inverno - e costumava ser rigoroso naquele lugar – aproximavam-se uns dos outros para permanecerem aquecidos e os espinhos machucavam. Voltavam para seus cantos, mas o frio obrigava a procurarem o calor uns dos outros. Aos poucos, aprendiam que havia uma distância mínima entre eles que não era tão perto a ponto de machucar, nem tão longe a ponto de perder o calor.

Nessa posição, não era possível se mover muito ou bruscamente, pois os espinhos ficavam quase tocando a pele uns dos outros. Mas era agradável ficar ali quietos, no calor da toca apertada.

A metáfora de Schopenhauer ilustra o comportamento social.

O vazio e a monotonia, a necessidade de afeto e aprovação, as catástrofes naturais ou provocadas, as comoções sociais em geral fazem as pessoas se aproximarem.

Mas o caráter narcisístico, cada vez mais comum aos comuns, única forma de afirmação da própria individualidade, última defesa num mundo onde até mesmo o pensamento mais recôndito, estúpido ou genial, é comum em outros incontáveis cérebros humanos, mantém os indivíduos separados.

As redes sociais são uma forma de manter essa distância segura dos outros, enquanto mantemos proximidade apenas com os membros da própria família e relações com meios corporativos, pois ambos são obrigatórios, seja por imposição legal ou por necessidade de sobrevivência.

Além dessa característica, permitem exercer seu narcisismo livremente e com mínima censura, através de amostras de suas qualidades artísticas ou científicas, para obter aprovação de uma comunidade. Assim, compensam sua fragilidade e irrelevância diante do Universo.

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Vida Real I
Os Espinhos são Bons
 
Cada espinho é um aspecto de nossa sigularidade.Cada um de nós é um indivíduo único, do qual não existe cópia fiel nem replicante. Para o bem ou para o mal, cada ser humano é um universo em si mesmo, repleto de dons e defeitos, falhas e grandezas.


Vida Real II
Os Espinhos são Maus

Viver uma época caracterizada pela repressão do mercado onde cada um é apenas um objeto administrado,faz dos espinhos atributos indesejados.

Assim, o Estado arranca cada um deles a cada vez que:

a) instala uma câmera de vigilância, a pretexto de segurança pública;
b) obriga a uma declaração de imposto de renda, a pretexto de custear o bem comum;
c) impõe regras cada vez mais severas para dirigir um veículo, a pretexto da segurança no trânsito;
d) obriga a identificação digital para votar, a pretexto do aperfeiçoamento da democracia;
e) reprime a livre manifestação do pensamento, a pretexto de combater o preconceito;


Para viver em paz e harmonia, cada vez mais próximos uns dos outros, seja virtualmente ou fisicamente, os espinhos deve ser extraídos.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Zen Nagô - A Vida é Mais


Viver pode ser não fazer, mas deixar que venha feito e acabado.
Viver é mais dar à inspiração chance de se aproximar, pois está à nossa volta.
Viver não pode ser apenas essa euforia e essa maluquice do dia a dia.
Que viver não seja o trânsito, o supermercado e a fábrica.
Muito menos a gravata ou a ferramenta.
Viver deveria apenas sentir a vida e as coisas vivas.
Viver deveria ser deixar viver.
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Viver é deixar fluir a vida atentamente, malemolentemente.
Como um truque básico Zen.
Como estar lado a lado com a naturalidade, naturalmente.
Como um truque básico Nagô.
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Pois o Zen Nagô é minha religião
E Dorival Caymmi o seu Profeta.
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Meu Sol nem se põe nem alvorece,
Está sempre perto da linha do horizonte,
Que se contrai, inverte-se.
Como uma rede onde me deito.
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Pois o Zen Nagô é minha religião
E Dorival Caymmi o seu Profeta.
Belo, pleno e doce ócio,