sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

OS INTELECTERNAUTAS



Anda por aí cada figura!
Devem ter representantes em todos os segmentos da atividade humana, da gastronomia à filosofia, mas são mais freqüentes nas sessões de “Arte e Cultura” dos índices de blog.
Traço comum, são figuras com uma relativa bagagem de leitura geral e um irrelevante conhecimento técnico numa área qualquer que pode ou não ser enquadrada como “Arte e Cultura”, tanto faz. Compartilham todos da certeza de que qualquer conversação aceita a intromissão de um dito espirituoso cheio de mordacidade, ironia ou sarcasmo, quase sempre utilizando uma citação de obra da cultura pop, que acaba com a conversa por sua inconveniência.
Característica UM:
Sempre indicam um livro obscuro ou texto em língua estrangeira para você ler.
Nove entre dez adolescentes e pós-adolescentes julgam ser essa a forma correta de conversar, assim os assuntos se esgotam no mesmo tempo de um comercial de TV, pois costumam dialogar com esse aparelho, tecendo comentários rápidos sobre cada peça de publicidade, numa espécie de competição que tem como vencedor quem consegue o dito mais curto e a observação mais impertinente.
São blogueiros, em sua maioria. Usam esse espaço para cuspir o bolo que ruminaram, fazendo comparações e “disponibilizando” (ato da realeza ou do dono do poder, que consiste em dispor informações, serviços ou produtos de forma ou gratuita aos pobres súditos sedentos de suas benesses; esmola) aos seus visitantes o fruto prodigioso de suas longas meditações.
Apetrechados de sua grande experiência, de suas leituras pesadas e eruditas, bem como de suas qualificações acadêmicas e até de um ou dois livrinhos publicados, sentam-se diante de um teclado, abrem seus dublevê, dublevê, dublevê, dois pontos, barra barra asneira e derramam mensagens que irão constituir o grande universo de informação (mercadoria abundante, banal, sem valor, manipulada e manipuladora) do século vinte e um.
Característica DOIS:
Celebram o centésimo post em menos de um ano, como se quantidade fosse qualidade.

Imagine a figura por dentro, o que ele sente ao digitar. Parece feliz quando vê sua idéia transmutar-se em impulso elétrico, com a possibilidade real de se transformar em papel impresso num simples Ctrl/P. Manifesta sua interpretação sobre um fato jornalístico, sobre a morte de um escritor, sobre um livro que leu, sem a menor responsabilidade, protegido e impune pelo anonimato, para ser visto apenas por seus iguais, que, por sua vez, irão acrescentar chistes cheios de mordacidade, ironia e sarcasmo, tão curtos como a duração de um comercial de TV.
A frivolidade dessas figuras faz crescer em mim um sentimento que cresce no peito, sobe e me empalidece. É um tipo de dó dessa solidão. Tinha que inventar uma palavra para ela, pois não é bem solidão, é estranho estar só num mundo de comunicação instantânea, total e de possibilidades infinitas. Claro, não estamos sós quando vamos ver Batman em legião e conversamos sobre o filme. Ou quando lemos Harry Potter ou Crepúsculo ou Torre Negra. Compartilhar de um todo, como ao comer um “mac-feliz”. Só estamos sós quanto àqueles pensamentos originais, íntimos, que lutam por se manifestar num universo padronizador. Aí é que somos nós mesmos, escondidos sob muita cultura pop, sob nichos de pensamentos obtusos, tendo muito a aprender sobre lucidez para interpretar os fatos de forma clara e realista, despido de ideologias e antes de todas as manipulações. Aí é que teremos uma opinião decente sobre o que seja “Arte e Cultura”, ou o que seja, e lançamos ao mundo como uma definição transitória de nossa própria condição efêmera.
Característica TRÊS:
São incapazes de qualquer tipo de Empatia.
Essa figura, o intelecternauta, sofre dessa intersolidão, esse estado de ser internamente (internetamente) solitário, pois são irredutíveis em sua auto-referência. Sentir o que o outro sente, o poder da empatia, exige alteridade, capacidade se se colocar no lugar do outro -qualquer um- para conhecer o que ele sente e assim julga-lo de um ponto de vista mais abrangente.
Mas, cuidado, a empatia é uma maldição quando irreprimível.

Característica QUATRO:
Praticam e.bullying.
Você entra no espaço vital que reservaram para eles, os blogs, e imediatamente pode ter sua mala batida para o chão, ver seu boné voar de um lado para outro ou ter que entregar seu trocado para o lanche. Caso você não aceite  ENVIAR opiniões  bem manjadas e insossas que afaguem o ego. Se ousa contrapor ou acrescentar, pode se arrepender. (Será que já fiz isso com alguém aqui mesmo nesse blog?)
Meu erro foi ter entrado meio inocente em alguns lugares, achando que o blogueiro é cabeça e gente boa, para descobrir que é só mais um valentão.  Não está a fim de uma conversa proveitosa, nem de encontrar irmãos e muito menos de aprender. Só quer  aumentar a distância entre ele o o resto.

Inseguro, aprisionado em estreitos pensamentos, talvez queira impressionar quando precisa cativar.  Julgando-se imperfeito ou inapropriado, tenta passar uma imagem ideal mas só transmite um arremedo.  Tento, sinceramente, alteridade e empatia como forma de compreender. Mas nem por isso eles tem o direito de gastar a energia equivalente e ferver duas chaleiras de água e assim contribuir para o agravamento do efeito estufa, cada vez que acrescentam informações irrelevantes e observações presumidamente inteligentes às suas sombrias covas eletrônicas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dragan Martinovic, um Agente muito Sentimental

Andando por aí, tenho encontrado todo tipo de gente.
Quase todos procurando se encontrar. Como o menino que anda somando bonequinhos playmobil com jogo de futebol, criativo e adorável mas  ainda preso a clichês. Como a menina que não faz a mínima idéia de como é possível ser plenamente amada, esperando o cara certo que certamente é o oposto total do cara que ela pré-concebe, que Deus lhe dê alguém com a alquimia perfeita. Como tantos outros que só estão por aqui para criar alter-egos muito distantes de sua simplicidade.

Sem querer, também posso dar de cara com um artista absolutamente genial, daqueles que tiram a venda de nossos olhos e afinam nossa audição, como Peter Davies , escocês cheio de idéias e contra-ideologia, que faz pensar sobre a negação inserida em toda afirmação.
.

Esses tempos, usei um trabalho de Dragan Martinovic para ilustrar a página "Poderes em Guerra", que se refere aos conflitos entra a Imprensa e o Legislativo depois crime de trânsito envolvendo o deputado Carli, aqui em Curitiba. Ele me flagrou e pediu que mencionasse seu nome. Ele já estava lá, quando pomos o mause na ilustração, surgia o título e o autor da obra. Mas mudei e dei o LINK para outros trabalhos dele, que são assombrosos.


Temática política por excelência, anti-americano (o que significa pacifista) por convicção. Nascido na Eslovênia, nunca seremos capazes de entender que diabos significa ser esloveno. Quais as privações que esse povo passou, quando integrava república socialista à força com servios e croatas? Todos esses povos desde sempre donominados "eslavos", ou seja, escravos.  Quão massivamente sofreu com as propagandas soviéticas anti-capitalistas? É difícil entender, para nós que sequer entendemos os gaúchos ou catarinenses, quanto mais os eslovenos!
Radical às vezes, usando as fortes tintas da arte para evidenciar uma situação ou abordar um tema, serve-nos perfeitamente como freio ao consumo indiscriminado e sem reflexão de produtos culturais americanos. Afinal, não houve globalização mas americanização do mundo, sendo necessário estabelecer limites e manter a mente lúcida contra a propaganda e o discurso opressor.
Esse é o papel de sua arte conceitual, direta como uma boa arte gráfica e sensível como a boa arte plástica.
Dragan
Dragan Martinovic
Dragan Martinovic