segunda-feira, 27 de julho de 2009

Se eu Vivesse para Sempre...

Um dos mais perturbadores argumentos utilizados por Doris Lessing num de seus livros da série "Canopus em Argus - Shikasta" é o da longevidade. Num trecho, o personagem compara a vida longa dos primeiros habitantes do planeta, antes da degeneração resultante de um fenômeno cósmico, com a vida breve vivida por eles naquele momento.

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Naqueles tempos, os homens viviam por até 500 anos. Assim sendo, tinham uma longa infância para viver com a família, aprender e conhecer milhares de pessoas. Depois, uma longa juventude dedicada a aprender os princípios de sua vasta ciência, viajar pelo planeta e exercer dezenas de profissões, muitas por muitos anos, conhecer outras pessoas e estabelecer sólidos e longos relacionamentos com o outro sexo. As mudanças corporais acontecem devagar, solidificando corpo e mente. Adultos, permaneciam casados por séculos com a mesma pessoa, pois a escolha foi meditada e pensada. Se não dava certo após décadas, iniciavam outro casamento que podia durar séculos, pois havia tempo para acertar, errar e tentar de novo. Assim era com a profissão que escolhiam, pois um só indivíduo podia exercer várias delas, cansando e voltando às universidades muitas vezes, pois ainda era jovem e capaz depois de décadas ou mesmo séculos num mesmo trabalho.

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Como é diferente da vida imediatista que levamos.

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Nossa infância de 12 ou 14 anos de duração, um terço dela vivido numa sala de aula, termina depressa. Nem bem chegamos aos 9 ou 10 anos, quando conquistamos um pouco da liberdade de sair brincar sem um adulto cuidando, chega a idade de adolescer. É um período de explosão hormonal, emoções intensas e repentinas, urgência de viver e conhecer gente, acumular experiências rapidamente num mundo de possibilidades infinitas. Ao mesmo tempo, estudar e reunir habilidades para sobreviver no competitivo mundo adulto, ainda sem saber direito coisa nenhuma sobre o universo de informações que armazena.

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Adultos, temos apenas uma chance para tudo. Gastar os anos em que é aceitável e razoável estudar uma profissão. Investir todas as suas forças numa relação matrimonial com uma pessoa que conhece faz só uns anos! Se não for com essa, depois desse tempo todo de namoro, com quem será? Começar de novo, com anos de reconhecimento prévio ou seguir em frente e ver no que dá? Teve a sua chance! Construir uma vida esperando que dure, que não acabe dali a uns dez ou quinze anos e pegue você na meia idade, sem forças e sem saco de recomeçar. Para mulheres, então, é uma chance só. Se não for mãe até os trinta anos, o risco de ter uma criança especial é assustador.

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Nessa vida breve que vivemos, tudo passa rápido. Sem segunda chance. Passado e velho, como casar de novo, mandar para o diabo o trabalho chato, ficar uns anos só na praia e voltar um homem novo, sem culpa de tempo perdido. Pois só nós sabemos o que é perder tempo, o quanto ele é valioso para nossas vidas tão desesperadas.

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Naquele tempo, infância e adolescência podiam durar tanto quanto dura nossa vida inteira de hoje. Entre jovens e adultos, vivíamos mais de trezentos anos e a velhice nos declinava tão lentamente que o fim chegava manso e desejado, continuação de nossa eternidade natural.

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Mas, é se for bom assim? Pensou nisso, Doris Lessing?

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Viver a intensidade de cada momento por saber irrepetível. Caprichar em ser amável para nunca ter que recomeçar outro romance. Arriscar a sorte no trabalho, no amor e em cada escolha que fizer, esmerando-se em fazer bem feito o que não poderá ser reconstruído. Se não é o ideal, é o que temos.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A VIDA NA PERIFERIA

Relatório do Agente

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Confirmações Antropológicas Urbanas

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A Vida na Periferia

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Envio as impressões superficiais sobre os hábitos da população residente nos limites de média aglomeração urbana padrão. Sinto o enfraquecimento das defesas contra a Retórica, causando perigosa aproximação pessoal com os objetos de estudo e distorção de minhas observações. Assim mesmo formulo o relatório, que pode ser futuramente utilizado para medir o grau e a intensidade dos danos resultantes do convívio prolongado com esta sociedade.

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Objeto: População multiracial, economicamente homogênea, culturalmente indefinida.

Local: Habitações limítrofes de cidade média.

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Impressão Inicial: As precárias condições urbanas são evidentes mesmo se observadas de grande altitude. Não houve planejamento na ocupação, resultando em habitações construídas ao acaso. As margens dos rios foram ocupadas irregularmente por populações ainda mais carentes do que os moradores regulares. Não existe absolutamente nenhum sistema de captação e tratamento para os dejetos e rejeitos líquidos, os quais são despejados em cisternas e escoam para os mesmos rios. Os recursos alimentares ficam sujeitos à distribuição por estabelecimentos escuros, úmidos e dedicados à comercialização de produtos populares de procedência duvidosa. Outros serviços pessoais são prestados por pessoas sem formação própria, a baixo preço e em condições indigentes, com resultados insatisfatórios.

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População: O perfil genético da população é resultante, em sua grande maioria, de relações inter-raciais envolvendo negros, índios e brancos. São indivíduos com tons de pele que variam de moreno claro a negro, com grande predominância de pardos.

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Hábitos: Observar a população em seu cotidiano desperta pungentes sentimentos no observador. Por exemplo, as mulheres. A maioria não exerce qualquer função remunerada por tempo definido e remuneração perene. Quando ocorre trabalho, é ocasional e incerto, restrito a funções humildes nas residências da cidade ou em estabelecimentos formais. Assim, permanecem em suas casas, cuidado de sua prole e das habitações. O cuidado com os filhos pequenos é esmerado ao extremo. Sua principal atividade durante o dia é permanecer em frente das casas, olhando os filhos e mantendo longas conversas entre elas.

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Quanto aos homens, é grande o número de jovens e adultos sem trabalho definido e sem remuneração perene. A maioria deles exerce função onde não é exigida mão de obra especializada, como na construção, consertos, reparos e jardinagem, sempre por pouco tempo, com baixa remuneração e muitas vezes sem vínculo formal. Quando cessa a remuneração, voltam a depender exclusivamente da ajuda obtida dos governantes, que lhes garante o suficiente para a sobrevivência. Em seus muitos momentos de lazer, dedicam-se a organizar reuniões de amigos e parentes em frente às suas casas, para rituais específicos de consumo de bebidas alcoólicas alimentos de origem animal processados em fogueiras, confraternizações rudes e ruidosas e audição de músicas em elevado volume.

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Muitos dos hábitos, como o de utilizar a rua para socialização e a audição e músicas com forte percussão, são originários de suas antigas tradições tribais, quando se reuniam no pátio das ocas para ouvir tambores. O hábito é o mesmo, independente da idade dos grupos reunidos, com mudança sutil apenas no gênero musical que mais agrada a cada idade. Os mais velhos ouvem músicas regionais corrompidas através das gerações, originárias de região no extremo sul desse continente, provavelmente lembrança de missões indígenas orientadas por religiosos. Em aglomerados urbanos do centro do continente, essa influência vem de culturas do extremo norte. Os sons dominantes são de musicalidade simples, com batidas fortes e repetidas, causando efeito hipnótico e eufórico.

Outros hábitos corroboram a teoria de suas origens, como a de proceder a queima de vegetação e detritos sólidos, atividade incompreensível quando dispõem de eficiente sistema de coleta de lixo.

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Elemento curioso nesse ambiente: seus veículos motorizados.

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Mesmo em habitações humildes e precárias, é onipresente o automóvel (veículo de transporte pessoal com quatro rodas, movido a combustão de material fóssil) e cada vez mais comum a motocicleta (veículo de duas rodas com o mesmo princípio e função).

São geralmente antigos e obsoletos, com muitos anos de uso e em condições precárias, rejeitados pelas classes dominantes das cidades e finalmente à disposição dos indivíduos da periferia graças ao baixo preço e condições de aquisição a longo prazo. Apresentam deterioração no aspecto, desgaste de motor e de outros componentes, sendo muito dispendiosa sua manutenção, motivo pelo qual circulam ruidosamente e com dificuldade. Esses veículos são utilizados para muitas outras finalidades, além do simples transporte pessoal ou como fonte de renda eventual.

São equipados com potentes reprodutores de música, utilizados em seus rituais de socialização e mesmo quando solitários, para atrair atenção quando se locomovem pelas ruas. São usados para uma espécie de esporte muito comum, que envolve expor o motor para os amigos e outros entendidos sem conhecimento formal, consistindo em trocar palpites sobre o estado mecânico, fazer ajustes e tentativas várias para resolver dificuldades crônicas irreversíveis. Tendo dispendido o total dos recursos econômicos para aquisição, não tem condições de arcar com a manutenção e substituição dos componentes mecânicos. Jovens que ainda gravitam em torno da habitação paterna, dispõem de recursos para adquirir esses equipamentos, resultando em mais de um desses veículos para cada célula familiar.

Uma das superstições comuns nessas comunidades é a noção que o equipamento mecânico deve ganhar pressão através da elevação da aceleração, quando permanece muitas horas em repouso, essa prática prejudica ainda mais o desgastado equipamento pelo acúmulo de fuligem nos pistões e promove ainda maior degradação do ambiente com suas emissões de gases nocivos e ondas sonoras.

É preciso observar que esse culto ao veículo de transporte pessoal é resíduo da grande importância econômica que teve nas últimas cinco décadas. Sua produção e comercialização era a principal atividade industrial do planeta, demandando vastos recursos naturais não renováveis, sendo a posse de veículo demonstração de status social em qualquer classe ou região. Atualmente, divide sua importância com a indústria de entretenimento, informática e alimentação, nessa ordem.

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Estágio na evolução dinâmica: Aquele habitantes mais antigos, que ocuparam estas vastas áreas quando seu valor era insignificante, encontram-se em conflito subliminar com novos habitantes, estes oriundos das regiões mais internas do aglomerado urbano. Excessivamente urbanizado e ocupado, com carência de moradia para as novas famílias, as regiões com infra-estrutura e saneamento tornaram-se inacessíveis para os habitantes da cidade, que procuram as regiões periféricas por sua disponibilidade e menor custo. Por possuírem maiores recursos econômicos e melhor nível educacional, ocupam casas recém construídas, de material durável e em pontos privilegiados, trazendo consigo os hábitos adquiridos quando moradores das regiões centrais. Por exemplo, dirigem-se com seus próprios veículos, em geral mais novos e atualizados, para adquirir alimentos em grandes estabelecimentos localizados nas regiões ditas "nobres" do aglomerado urbano, que dispõem de grandes áreas de estacionamento. Os antigos moradores adquirem seus alimentos caminhando até estabelecimentos próximos, que não possuem área de estacionamento, sendo o alimento levado posteriormente à sua habitação por veículo de carga desse estabelecimento. Enquanto os primeiros tem larga possibilidade de negociação e escolha, estes ficam sujeitos à baixa qualidade e elevado preço.

Além de trazer diferentes hábitos, os novos habitantes não costumam confraternizar com os antigos, a não ser para a contratação de mão de obra por serviços ocasionais. Essa atitude é estranha aos moradores antigos, que inicialmente eram simpáticos aos recém chegados, acolhendo-os com saudações e sendo tratados com estranheza e indiferença.

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Consumo: Os habitantes das regiões periféricas têm acesso aos bens de consumo que são comuns aos habitantes de áreas mais valorizadas e próximas ao centro do aglomerado humano que gravita. Contudo, a qualidade desses produtos é muito inferior, muitas vezes adquirindo artefatos apenas depois de usados ou quando se tornam obsoletos. Utilizam simples aparelhos de comunicação pessoal, com limitada capacidade de interação por seu elevado custo. Não contam com praças e locais públicos para confraternização, apenas com locais controlados por facções de cunho religioso.

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Conclusão: Abandonados por seus governantes nas questões de segurança e saúde pública, são sustentados pelos mesmos governantes em suas necessidades mais básicas e imediatas. Um cidadão comum pode passar toda a vida sustentado pelos diversos benefícios concedidos. Desde o nascer, nos hospitais públicos e na ajuda para seu aleitamento e recursos médicos. Nas escolas básicas, com acesso à educação e alimentação enquanto é criança. Nas diversas formas de assistência, até com ganho de valor mensal em moeda. Na velhice, com ajuda financeira até o fim de sua vida, sempre contando com dezenas de instituições e programas sociais que os mantém nessa vida sem perspectiva.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O ANJO - Relato de Fatos Reais.


Um anjo está ali, sentado.

Triste e derrotado

Só um anjo todo ferido,

Feio e mutilado.

Sua espada,

Que demônios derrotou,

Enferrujada, caída no chão.

Só sentado no canto.

O canto do cú do Universo.

Numa pedra que restou.

Sem ter para onde avançar

E nenhum lugar para voltar.

Fica calado,

Cabelos despenteados

Sujos, maltratados,

Beleza nenhuma restou.

É um anjo ou era,

Com os braços largados,

Sobre os joelhos magros

Que a força abandonou.

Seus olhos azuis de fé,

Ainda brilham nas gotas que deslizam

Do chorar o que deixou.

Um anjo só.

Despedaçado no silêncio negro

Do final de tudo.

Velho anjo,

Que todas as lutas venceu,

Vencido por quem tanto amou.

E amou até nada dele restar,

Só abandono e solidão.

E tentou e lutou.

Até ser destruído

Mesmo estando perdido,

para sempre cansado e maldito.

Até ficar ali exausto,

Para nunca mais ser achado.

Um anjo

Sentado no fim do mundo

Com cansaço tão profundo,

Nem para mim olhou.

Um anjo

Num canto do fim do caminho,

Sobre uma pedra sentado,

Só, triste e esgotado.

Quantas lutas invencíveis

Foi obrigado a enfrentar.

Um anjo

Parece estar precisando

Um bom homem da guarda

Em quem possa acreditar.

Há lutas inglórias

E batalhas invencíveis,

Mesmo para um anjo.

Nascido de uma lágrima de Deus,

Criado nas dobras de seu manto,

Era o arcanjo da espada flamejante.

Venha comigo o anjo,

O canto, a pedra e a espada.

Vamos sentar lado a lado e um,

Conversando, apenas.

Saber como chegamos

Tão longe de tudo.

Como nos deixamos abater.

Que tarefas podemos cumprir

Esses missionários sem missão.

E seus olhos são dois buracos

Rompendo as paredes da velha prisão,

Por onde escorrem oceanos inteiros

De lágrimas ainda por chorar.

Isso é relato de fato real, mesmo! Aconteceu como descrito. Então, não importa a qualidade da poesia, pois não é poema. Não interessa a métrica, a rima ou o ritmo, pois é relato emocionado que não conhece regra nem estilo. Se não acredita, nem admite que possa acontecer consigo um dia desses, problema seu!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

PETER DAVIES - Um Agente Sentimental


Um artista que desmascara os ideais tornados ideologias, as pontas de lança do imperialismo comercial, os produtos de consumo mascarados de ideal, as referências da cultura pop que se tornaram clichês, modelo de atitude e mensagem vazia. O cara é muito bom, com elegância e relevância sempre.

Mais dele no http://www.saatchi-gallery.co.uk/artists/artpages/peter_davies_redundancy.htm



FÃ DE HARRY POTTER PAROU PARA PENSAR

Declaro minha admiração incondicional por Harry Potter. série de livros de J. K. Rowling que resultou em filmes e produtos sem fim. Todos leram aqui em casa e li também, cada um e alguns mais de uma vez. Sendo fã, não devia tocar no assunto com seriedade, afinal, é pura diversão. Mas, a partir da hora em que se transforma num fenômeno de comunicação de massa, os agentes que foram causa e os efeitos sobre a sociedade passam a ser relevantes. Então, o bruxinho que me desculpe.

Do ponto de vista literário, a autora pode ser igualada aos grandes contadores de histórias da tradição inglesa. Guardadas as devidas proporções e as exigências atuais da cultura pop, pode ser comparada a J. R. Tolkien ou a Charles Dickens como continuadora dessa tradição.

Independente dos rótulos de "infanto juvenil", "superficial" e "trivial" concedidos pelos mais intelectuais, sempre vou admirar a competência de um autor que conta uma história com naturalidade, criando personagens sólidos e verossímeis, de comportamento continuado, colocados em enredos interessantes e originais. Desde os mais clássicos, como Mika Waltari, até os mais mercantis, como Stephen King. São bons para ler sem complicações, só para diversão e bom passatempo, pois nenhuma leitura é inútil.

Assim, gosto mesmo do Harry Potter. Tanto, que lamento ter acabado. Mas isso não me impede de pensar o tema e o fenômeno de mídia.

A Unificação do Tema

Em primeiro plano, a esperteza da autora em realizar uma Unificação de tema. Pegou todas as histórias de bruxo e feiticeira, muitas referências a alquimia, magia simpática do meio rural, personagens da história e lendas, tudo sempre muito familiar na cultura inglesa e devidamente espalhado no Mundo pelo colonialismo britânico. Incluiu crianças na trama, ingrediente fácil utilizado por quase todos os autores - de novo Dickens, King, Tolkien e Lewis Carrol, J. M. Barrie e C. S. Lewis - e obteve um produto final que sintetizou todo um aspecto da cultura de seu país, com o talento de contar a história com leveza e eficiência.

Outros autores tentam fazer a mesma coisa em outras áreas. Uns conseguem parcialmente e pouquíssimos alcançam reunir todos os elementos para contruir uma boa história.

A Identificação do Público

Quando um menino comum, sem fortuna, sem família e sem casa para morar, revela-se um mago poderoso destinado a grandes feitos, é imediatamente adotado. Os adultos querem proteger e cuidar daquele menino doce e incompreendido. As crianças querem aquele irmão e amigo leal, sempre disposto a arriscar a própria vida por seus amigos e é inexorável com os inimigos.

Além do mais, para ser bruxo, não é preciso nascer bruxo, Ermione é filha de pais trouxas e a mãe de Harry é trouxa também. Mas é preciso um talento natural a ser cultivado, senão não tem nenhum futuro como bruxo, mas essa é uma realidade que não incomoda os fãs, pois no fundo sabem que tudo é fantasia e as coisas não podem ser consertadas com o simples agitar de uma varinha.

Os Mal Educados

A falta de educação dos pequenos bruxos e sua constante atitude de contestação às regras impostas pelos adultos, é até poética. Reflete de forma tão nítida a atitude da atual juventude, que é até engraçado. Lembrem da atitudes arrogantes de alunos nas salas de aula, a perda da respeitabilidade de professores em qualquer fase educacional. As crianças e jovens desse mundo permissivo e incompetente em dar disciplina, são cheias da informação vagabunda fornecida nos links de pesquisa do google, sem nenhum contato mais profundo com enciclopédias conceituadas e nehuma leitura de qualidade. Por força da vida artificial que levam nas cidades, com a desculpa de permanecer protegidos dos atritos com o mundo real, têm limitada experiência com o mundo real. Assim, são facilmente cooptados por fantasias e recusam experimentar. Contentam-se com o que julgam saber e recusam a experiência como algo perigoso. Os desafios se resumem a zerar um jogo, apesar da sensação de vazio que permanece depois que conseguem.

No complexo jogo de culpas dos pais modernos, os filhos saem perdendo. É culpa por não ter acesso ilimitado aos bens de consumo. Culpa por deixar as crianças sozinhas e ir trabalhar. Culpa por criar os filhos sem pai, nos casais separados. Culpa por impor um padrasto depois. Culpa por ter filhos fracos e dependentes que nunca mais saem de casa. Culpa por não castigar quando devia. Culpa por ter castigado. Culpa por ter culpa. Pais assim, produzem filhos que se acham merecedores só por ter nascido, nunca fazendo por merecer qualquer beneficio, cobrando indefinidamente as obrigações paternas como se fossem naturais.

Pobre Bruxaria

Andei por esses lugares mágicos durante muito tempo. Naquele tempo, procurava espiritualização e não a magia fenomênica. Para mostrar a diferença, posso contar sobre meu amigo James. Esse era poderoso e ainda é.

Iluminado, forte, mestre e campeão de kung -fu, capaz de prodígios inegáveis, como ver o futuro, alterar comportamentos e produzir efeitos físicos com o uso de seu dom. Poderoso, influenciava as pessoas com seus prodígios, mesmo gente inteligente e influente, pois carros oficiais e de grandes empresários congestionavam a frente de sua casa. Homens poderosos só agiam depois da devida consulta. Pegava um anel e através dele entrava na casa das pessoas, descrevendo objetos e ambientes que emanavam malignidade. Descrevia situações com detalhes que só a pessoa conhecia. Se tivesse coisas a esconder, ficasse longe dele! Era irresistível, mas alguma coisa sempre dava errado e ele não assimilava equilibradamente o processo, entrava num crescendo até a alucinação, se afastava por um tempo e depois voltava, novo e brilhante como sempre. Seu dom beira a maldição. Era o oposto do que eu procurava. Para mim, os fenômenos de adivinhação, preciência, percepção e outros eram apenas o resultado natural, um sub-produto inevitável e indesejado do processo de iluminação interior.

Em Harry Potter, não há uma menção sequer à necessidade de espiritualização. As bruxarias são apenas o resultado de uma fórmula mágica, uma vontade forte e uma varinha na mão. Nada mais. É processo mecânico e automático que pode ser aprendido numa escola que não é muito diferente de outra qualquer. Os alunos vão às salas de aula, aprendem, estudam e fazem exames da forma mais prosaica possível. Assim, um bruxo não precisa ser do bem, ou ser bom ou ser espiritualizado, nem mesmo passar por processo de iniciação nas artes que procura dominar. Tudo é feito sem nenhuma responsabilidade, sem nenhum preparo interior para ser bruxo. Falta moral.

A grande diferença entre Magia e Bruxaria é a seguinte:

Bruxo age sobre a natureza, mudando ou corrompendo. Mago age com a natureza.

Bruxo é cavalgado. Mago é o cavaleiro.

Bruxo é terra. Mago é Céu.

Bruxo atrai contra si as forças que busca dominar. Mago age em harmonia com as forças naturais.

Bruxo faz o que quer e está contra a Lei, pagando por isso. O que o Mago quer é Lei, só lembrar do "faze o que tu queres", mas para chegar a isso, é preciso saber querer.

Que me desculpe o bruxinho, pois ainda gosto muito dele. Ensina que é preciso ser leal aos amigos, caridoso com os animais, magnânimo com os inferiores e compreensivo com os ignorantes. Mas é preciso sempre permanecer pensante, consciente das incongruências e contradições dos produtos que consumimos, pois o verdadeiro mago é auto-consciente, sabedor da natureza à sua volta e das complexas cadeias de Causa e Efeito que movem o Universo.

sábado, 11 de julho de 2009

Pássaro velho.
Tempo demais na prisão.
Tão apaixonado.
Não desaprende amar.
Tanto aprisionado desaprendeu voar.

Pássaro ferido.

Não sai mais do chão.
Asas tão grandes.
Não consegue andar.

Ainda sonha estar a voar.




quinta-feira, 9 de julho de 2009

Amarga

Amarga é a pouca vida.
Quem, de pouco viver,
A vida amarga,
Amarga o vinho que não bebeu,
Amarga os sonhos que esqueceu.
Amarga o amanhã no hoje perecido,
Com ontens de lembranças sem doçura.
Quem, de pouco viver,
Tem a vida áspera,
Rasga as sedas que vestir,
Rasga os planos que construir,
Rompe os laços com a vida,
Fere o tecido do coração.
Seu toque fere
O suave amor.
Amargo e áspero.
Dor e dor.
Amarga caminhos e perde rotas
Por um mapa impossível,
Cheio de muros e fossos
Gerados em sua feroz amargura.
Amarga o olhar,
Habituado ao feio.
Amarga o toque,
Áspero e seco,
De onde moram os medos.
Amarga tudo
E a vida abate,
Tão amarga e mais pouca
Vai ficando a vida.
Quanto e tanto mais!
E a amargura tem som
Das trompas que me caçam.
A cor provável do último dia,
Do último crepúsculo magenta.
O cheiro penetrante do enxofre
Remexido no caldeirão infernal.
E dá a tudo o gosto
Do mais abjeto nada.
Enquanto aperta o peito,
Fratura as asas
Com toque brutal.
Pois é uma coisa surda,
Muda, insípida e tudo.
Pois nada vê, nada ouve
E se cala à vida que passa
Como se não houvesse
Mais vida que sentir.
Mas,
Tanto mar!
Tanto amar!
E tão amarga.
Só um tolo
Amarga o mar,
Amarga o amor,
Amarga o vinho,
Amarga a vida.
Amarga e só.
Só sendo só.
Até no silêncio,
Mesmo ele amargo
Como só ele sabe ser.
Cheio de tempo perdido,
De coisas não ditas
Ou ditas demais,
No desespero de saber
Que não adoçará jamais.

domingo, 5 de julho de 2009

Marcia


O Mar, quando te beija os pés,

Os campos floridos da Terra,

Ao teu redor.

O Céu, de estrelas se enfeitou.

A luz da Lua o teu sorriso

Iluminou.

O Mar se aproximou,

Onda pequenina na areia branca

Te encontrou.

O Mar se Amor contivesse,

Tão profundo e grande,

Seria igual ao meu.

O Céu é só espaço

E a flor coisa colorida,

Sem você, meu amor.

sábado, 4 de julho de 2009

Antes, Depois

Quando nos encontramos,
Naquela primeira vez,
Imaginei para sempre
O quanto deveria ser doce.
Doce e profundo.
Como precisava ser gentil.
Gentil e poderoso.
Como poderia ser forte.
Forte e carinhoso.
Para não transformar você
Numa coisa amarga
E, como um tolo,
Desperdiçar sua doçura.
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Mas o tempo foi enganando
E num canto me acuando,
Como um animal.
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Poderoso um dia,
Acabei coisa brutal.
O profundo que deveria,
Mergulhou em solidão.
O que gentil parecia,
Virou fraqueza e indecisão.
E quem era carinhoso,
Quem diria,
Só choraminga atenção.
Só a doçura,
Que eu mais protegia,
Ainda te resiste,
Amor erosão.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Livre Sonhar

Somente somos
Enquanto sonhamos.
Enquanto vigiamos,
Somos os outros.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

De Repente

De repente,
Um sorriso todo encanto,
Um olhar de acalanto
Me inunda o coração.
De repente,
Vem chegando de mansinho,
Como quem, devagarinho,
Vem pedindo prá ficar.
De repente,
Pousa um velho disco alado
No jardim pouco encantado
Deste mundo sem querer.
De repente,
Nasce o sol iluminando
E me encontra caminhando
vendo o campo florescer.
De repente,
Eu me encho de coragem
E detenho essa viagem
Que é procura de você.
De repente,
Para sempre foi embora
E os sonhos meus de outrora
Voltam hoje a perecer.
De repente,
Deste sonho eu desperto
E me vejo num deserto
Que é a vida sem você.