terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A RioSãoPaulização do Brasil

Um dos sábios que orientavam minha geração, tornando o mundo mais verossímel, era Marshall McLuhan. Ele me avisou que o Mundo era uma Aldeia Global, cada dia mais aldeia graças à rapidez dos transportes e instantaneidade da comunicação.

Só não me avisou da extinção da sabedoria, substituída pela abundância de informação.

Nem me alertou que nessa aldeia viveriam seres que retornaram a estados mentais primários e primitivios.

Em seus últimos dias, o mestre concluía, horrorizado, que não houve a Globalização do Mundo.

Aconteceu a Americanização do Planeta.

Assim como uma marcha adota o ritmo do mais fraco de seus integrantes, todo o grupo é forçado a ser igual ao mais forte dentre eles.

Paralelo a esse fenômeno, o Brasil vê acontecer a RioSaoPaulização do Brasil.

Palavra feia? O riosaopaulizado resiste como qualquer traumatizado fugindo da dor.

Consumindo seus produtos, seja culturais ou de subsistência. Aceitando sem pensar seus heróis e celebridades. Ouvindo sem trégua sua mesma Música Popular Brasileira feita no Rio e em São Paulo. Adotando suas fórmulas, rejeitando seus vilões. Pagando dez vezes mais para ouvir o mal-envelhecido cantor e os zumbis que o acompanham.

Recusamos pensar, esquecemos nossos poetas e abandonamos nossas fórmulas.

Desistimos.

* * * * * comentário inteligente * * * * *

Caro Agente Sentimental

Acredito que essa sua análise está uns vinte anos atrasada.

Até podia ser que São Paulo fosse o modelo do Brasil, mas isso é passado. 

Naquele tempo, os produtos que voce consumia eram todos feitos em território paulista, de carros a bolachas. Mas, hoje, o Paraná fabrica carros, alimentos e todas as outras coisas. Igual a Minas e Bahia.

Até podia ser que o Rio de Janeiro fosse o berço de toda a MPB, mas isso já era, só se o funk agora tambem é MPB.

Mas tem uma coisa muito pior acontecendo: a saopaulização do carnaval carioca.

Veja como a estética chapada e industrial de São Paulo invadiu a estética antes cheia de texturas e detalhes do Rio de Janeiro.

Até você é capaz de ver isso.

Compare qualquer igreja carioca com as igrejas paulistas.

Todas as igrejas de São Paulo,  do mosteiro de São Bento à Catedral da Sé, parecem um galpão de fábrica. Paredes nuas com uma ou outra figura, a Via Crucis e um e outro desenho discreto. A pessoa se sente um operário lá dentro.

Nas igrejas cariocas é total abundância de altos e baixos relevos, florzinhas, anjinhos, texturas, detalhes  arquitetônicos, tudo espalhado em cada centímetro quadrado gloriosamente barroco.

E essa diferença era evidente no desfile de carnaval.

Mas isso é coisa do passado. A cada ano que passa o carnaval carioca se parece mais com o carnaval paulista.

É o carnaval com temas marketeiros, projetado no computador, industrializado e "disponibilizado" para o mercado.

Blocos de cores chapadas com fantasias insossas. Carros sem arte e apenas decorativos, cheios de celebridades deslocadas no meio da nudez sem propósito. Tudo feito por molde e regramento.

É a arte popular por atacado.


Isso sim é que é triste.

Queria ser Joãozinho Trinta e poder falar isso para todo mundo ouvir.


assinado: carioca da gema anônimo.

*********comentário estúpido**********

Senhor Agente Sentimental
Primeiro, sem sentimentalismos! O Brasil já está cansado da ditadura política, econômica e cultural que vem de São Paulo e do Rio de Janeiro!
É preciso dar um BASTA nessa servidão! 
O nosso movimento separativista tem exatamente essa função: criar um Estado Soberano no Sul.
Junte-se a nós para somar forças e mentes que hão de criar um novo País, livre do fardo de regiões sub-desenvolvidas, com novas e mais severas leis contra a impunidade, senhor e fruidor de suas riquezas. 
E como se não bastasse, ainda temos que engolir a arte vadia que vem da Bahia!

assinado: pampeiro anônimo 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Hordas e Rebanhos


Você integra uma Horda ou um Rebanho?

Talvez sequer saiba qual a diferença entre um e outro, então é preciso que seja esclarecido.

Uma horda é um aglomerado humano indisciplinado com um objetivo comum. Tem por finalidade a violência, ou a satisfação de necessidades hedonísticas, ou sobrepujar uma força contrária. Sua motivação é sempre extrema, seja por fanatismo religioso, esportivo ou político. Seus membros podem ser de qualquer idade, mas são mais comuns os jovens.

Um rebanho é um aglomerado humano disciplinado, onde cada integrante tem seu próprio objetivo, normalmente comum a todos os outros membros. Tem por finalidade a coexistência e a obediência às regras do seu meio. Sua motivação é a segurança e a crença na validade das regras sob as quais vive. É desejo das regras que o rebanho se mantenha ordeiro e produtivo, garantindo assim sua sobrevivência,

O habitat natural da Horda e do Rebanho são os locais públicos, ruas, praças, estádios e templos.

Se você integra naturalmente a Horda, pode ser um indivíduo com necessidades especiais e diferentes, que exigem desobediência às regras para que venham a ser satisfeitas. Ou pode não ter necessidade nenhuma e integra a Horda apenas para obter emoção.

Se você gosta da sensação de anonimato que lhe permite realizar atos que jamais exteriorizaria como indivíduo, a Horda é o seu ambiente. Nela, cada um é chefe e comandante e a única regra é agir com fanatismo, violência e intolerância.

Se seu temperamento é passivo e gregário, seu lugar é num Rebanho. Por aceitar e obedecer regras bem claras, atuando de acordo com todos ao seu redor na esperança que sua segurança e sobrevivência nunca seja posta em risco, o Rebanho é seu meio natural.

Se você gosta da segurança e da previsibilidade, pois as regras existem e existem alguns membros dedicados a manter a ordem por essas regras, fique no Rebanho.

Mas, tudo bem, você está num local público qualquer, junto com milhares de pessoas mais ou menos iguais a você, todos fazendo alguma coisa qualquer juntos, quando a desordem começa e se espalha. Enquanto o Rebanho foge assustado, a Horda se manifesta com fúria. Mas não está escrito na testa de cada um qual é sua natureza e as regras se aplicam a todos. E elas prescrevem que a ordem seja imposta ao caos.

Se você não é Horda nem Rebanho, tem outras opções. Tendo recursos financeiros, pode ser membro de um Clube, que é local onde cada um é escolhido e selecionado segundo critérios rígidos e obediência total às regras. Se prefere obedecer a outras regras, pode fazer parte de um Bando ou Gangue. Se suas regras não são desse mundo, pode fazer parte de um Grupo religioso.

Se você não compartilha da docilidade do Rebanho, nem da ferocidade da Horda, pois não sabe obedecer e muito menos sabe mandar, não tenho esperanças para você.


Não vai ficar feliz num Rebanho, nunca vai ficar contaminado pela Horda, não verá sentido em qualquer outra aglomeração de pessoas. Vai ter que ficar na sua e só, secretamente esperando que o mundo um dia mude e que as coisas deixem de ser assim tão animais.

Provavelmente, voce é diferente por ser um Humano. Com certeza, não vai encontrar humanos em grandes grupos, pois são muito poucos nesse mundo.

Enquanto isso, evite animais.