quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Não esquesão de min



Não esquesão de min

Fico morrendo de vontade de contar uma história que me fez chorar um dia.

Uma história que começou com um evento corporativo, naqueles meus tempos de engravatado alienado. Quando usava minha inteligência mediana e toda ilustração obtida às duras penas em escolas e livros para dar um jeito de aliviar a Receita, levar no bico um empregado e enriquecer terceiros. Dias Duros.

Vamos lá, disse o dono da empresa, vai lá com a gente! Você conversa bem.

Era um jantar com um diretor das Lojas P., que vinha decidir com quem ficaria o quinhão principal de certo artigo de interesse do meu cliente. Dependendo de nosso poder de sedução, todo mundo ia ganhar dinheiro.

O restaurante era ali no estádio do Coxa e a comida era farta e boa, mas sempre achei meio seboso desde que minha mãe costumava encomendar ali o cupim do almoço de domingo.

Fomos até o fim quando, ensebados e meio bêbados, o cliente puxou a mim e seu irmão,o gerente Alfonso, para um canto e mandou: Levem ele até uma boate e deixem ele bem feliz, está sózinho no hotel e a gente precisa comprometer ele.

Arrastamos o figura até o Metrô, onde os caras da portaria e os garçons receberam o Alfonso como se fosse um playboi curtido na noite.Tratado pelo nome, mesa de pista, bebidas servidas sem ninguém pedir. Eu nunca tinha entrado naquela boate.

Noite adentro os dois caras bebiam enquanto eu esquentava a mesma cerveja na mão. Alfonso pediu mulher para o garçon e apareceu uma para cada um. Juro que os dois já foram passando a mão sem cerimônia nas coisas das meninas, mas eu estava paralisado e conversava sobre tolices com a loirinha que me coube, sem tirar os cotovelos da mesa e perfeitamente sóbrio.

Nunca fui disso, não estava disposto a começar e fazia horas já achava que as coisas estavam indo longe demais. Isso de ganhar contrato na base da putaria é muito nojento.

Quando o diretorzão percebeu o meu jeito, fez troça e puxou a loirinha para si. Mostrar como é que se faz e essas coisas de macho de verdade.

E caiu de conversa em cima da menina. Foi dizendo que era de uma agência de publicidade, que estava escolhendo meninas para uma campanha, que gostou do tipo dela, que era muito bonita (e era), que era o tal e outros quês.

Com certeza era um cara com todos os talentos para chegar a diretor lá da corporação dele, devo admitir.

A noite seguiu desse jeito, eles garfiando as moças e eu olhando.

Lá pelas tantas, parece que o Alfonso não convenceu o cara a levar uma menina embora, então a loirinha veio até mim e disse que ia trocar de roupa para arranjar um programa e faturar alguma coisa na noite e se perdeu na homarada do Metrô.

A gente ficou vendo uns shows onde aconteciam umas danças que pretendiam ser eróticas. É engraçado como manter o espírito crítico e lúcido pode deixar a vida sem graça, às vezes.

Dali um pouco, volta a loirinha.

Prestem bem atenção agora.

Ela chegou do meu lado, agora vestindo um tomara que caia ou bustiê, sei lá, todo brilhante, falou bem assim; veja só, quando eu tinha menos idade essas chances não apareceram e agora surge uma oportunidade dessa, olha que coisa. Eu vou te dar meu endereço e voces me ligam amanhã, só não digam que me conheceram aqui, pois esse é o telefone de minha irmã e ela não sabe que eu trabalho na noite. Tá bom?

Antes que eu dissesse olha aqui menina, continua puta que aqui só tem canalha, ela botou na minha mão esse bilhetinho. Clichê de todos os estereótipos. Folha arrancada de caderninho recortada dobrando com a unha e escrito ibidem assim em caixa alta:

MODELO E MANEQUIN

FULANA DE TAL E TAL

RUA DE ALGUM LUGAR POR AÍ, Nº QUALQUER

BAIRRO MERCES CURITIBA TEL. 33 E TAL

E lá em baixo, pulando uma linha:

NÃO ESQUESÃO DE MIN


É esse aqui, que resolveu cair de dentro de um livro ainda hoje e trazer de volta a lembrança:
Meu amigo, se mulher assim não é a pessoa mais ingênua que existe! Já tinha ouvido dizer que todas são ingênuas, mas nunca acreditei.

Aquilo me bateu com uma chacoalhada, se estava um pouquinho bêbado, não estava mais. Aquilo me derrubou, me deprimiu e chorei mas ninguém viu.

Esse foi meu desastre particular. Provavelmente nenhum outro cavalheiro ali presente sentiria a coisa como eu senti. Mas a noite ainda reservava uma surpresa (adoro clichês de escritor simplório).

O show especial da noite apresentava nada mais nada menos que a mãe, uma loirona passadona, apresentando a própria filha, uma loirinha na flor da idade, num espetáculo de ardente erotismo. E era bom mesmo, preciso admitir. A menina se movia com graciosidade e segurança, enquanto sua versão mais antiga circulava em volta. Bem na hora em que ela utilizava o cabo de um chicote de montaria para uma função estranha ao seu uso normal, percebi uma movimentação estranha em cima de nossa mesa.

O Alfonso, bêbado e ensandecido, subiu na mesa e segurava entre as próprias mãos o próprio membro viril, gritando Olha aqui como está duro.

O diretorzão, olhava para a cena assustado. Eu levantei e levei as mãos para tirar o Alfonso de cima da mesa, mas havia aquela coisa meio mole bem no meu nariz. Gritei desce daí seu maluco e outras coisas que esqueci e soquei o doido de volta na poltrona. O cara ainda balbuciava a se justificar .

O alvo da malandragem, o tal diretor, nem vacilou. Com o porre milagrosamente curado, foi saindo e fui atrás dele. Dizia para mim o Alfonso é louco,o que é isso, é esse cara que vai gerenciar a nossa conta. O sujeito estava prá lá assustado, pois vai que até canalha tem seus limites. Eu desculpei e fui atrás até a calçada da Cabral, meti o cara num taxi e mandei pro hotel.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Meu nome é Pedro José Flores Mathias Tebinka Pinto de Carvalho Malanski



Muito Prazer!

Se alguém me procura: estou aqui!

Pedro José Flores Mathias Tebinka Pinto de Carvalho Malanski é a ponta do iceberg de minha genealogia e só o mais tenro e recente ramo duma árvore metafórica.

E quem carregar qualquer desses nomes pode me pedir simples pousada ou que eu desça ao inferno em seu auxílio.

Sou o resultado de centenas de encontros inesperados, mas sei exatamente de onde vim, sei precisamente para onde vou e me conheço por inteiro.

Por Pedro pode me chamar, se acaso nos vimos além de uma só vez, pois é nome leve e não me compromete.

O José foi invenção do padre que me batizou, agregando mais de um santo ou  decerto intuindo minha necessidade de fazer com as mãos, mas nunca integrou meu nome oficial.

O Flores teve minha bisavó celestina, Mariquinha, cabelos brancos até os pés, violão entre os braços, falando diretamente com Deus a balançar crochês delicados, absoluta e poderosa doçura. Lá atrás, carregava ela histórias de maçonarias em Morretes e derradeiras ações de caridade.

O Mathias ostentava minha avó natureza, tão Maria também, cabelos negros assim guarani, toda um cajado, enxada ou segadeira, rija e forte, moldando a terra e as estações para perenemente colher qualquer fruto, essa maga dos remédios e de todos os mistérios perdidos da natureza. Qual o seu mistério e qual seu destino se permanecesse em Liepzing seu antepassado judeu?

O Tebinka trouxe minha avó realeza, Cecilia, dama dos pães, doces, costuras e etiquetas, rainha das festas e comemorações, artesã de elaborados presépios e pessoas. Muito além em seu passado, um cocheiro do imperador austríaco olha para além do dorso de corcéis imponentes.

O Pinto de Carvalho não ficou em meu nome cartorial, que se fosse também o José seria como o de meu avô, denunciando esses judeus rebelados, fugidos primeiro de Napoleão, depois dos separatistas de Portugal e até hoje avessos à política.

Vigora sobre os outros o Malanski, de meu avô guerreador, enorme, para quem eu olhava e imaginava capaz de todos os atos de gigante.

Cada memória genética de cada um deles vibra em cada fibra de meus tecidos e ossos, gritando os eventos traumáticos gravados fundo em suas vidas.

É um efeito colateral da lucidez, recordar as experiências acumuladas de cada memória genética que me constrói.

Os amores, decepções, abandonos – ah! os abandonos! – erros e alegrias de uma hoste de homens e mulheres, talvez desde o primeiro lampejo de consciência de um certo peixe no mar primordial.

A maioria, coisa bonita, pois ainda eram jovens quando se reproduziam.

N´outras vividas, tinha outras nominações.

Pude até hoje viver sendo todas as raças da face da Terra, pois aquele que Sou migra eternamente e frui de cada conjunto biológico.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Lucidez

Tive um sonho esta noite.

Dele acordei com a boca seca, apavorado com a possibilidade de esquecer o sonhado.

Era um sonho em que eu lutava.

De todas as formas.

Às vezes vestido para a guerra, outras vezes quase nu.

Numa hora estava em uma montanha, depois num deserto brilhante e logo em seguida me agarrando para não ser levado por uma correnteza.

Tantas vezes era dia, outras tantas noite fechada e muitas vezes terra e céu todo gris. 

Lutava com uma longa lança, uma borduna gasta, depois com uma pistola antiga, em seguida com as mãos nuas e até com um estranho remo amarrado com um longo tecido, em cuja ponta havia uma bola que feria os inimigos à distância.

Havia homens e mulheres ao meu lado e sempre ficavam para trás ou seguiam muito adiante.

Os inimigos  eram máquinas e cães enormes. Eram demônios e coisas rastejantes. Vinham todos na tocaia e na traição. Estavam nos castelos e nas estradas, nos edifícios e nos casebres miseráveis. Por todo lado e em todas as formas que o sonho ilimita.

Sempre próxima, seguindo meus passos, uma mulher desconhecida gritava avantes e coragens, preemente e intensa.

Deuses! Vou lutar para sempre?

E era boa e feroz a luta. Braços nunca cansados do golpear, olhar sempre atento ao próximo.

Mas, contra o quê eu lutava, afinal?

Contra todas as trevas.

Pois posso eu lutar toda uma saga de Ulisses, grego tolo. Posso lutar tanto quanto lutou Harry Potter, ou todos os companheiros do Senhor dos Anéis, ou tanto quanto cada um dos miseráveis da Guerra dos Tronos, ou todas as batalhas de Alexandre, tudo isso tudo junto e mais qualquer outra que puder lembrar.

Não vou conseguir remover nem uma simples camada que aprisiona a minha mente ou a sua.

Nem a primeira malha de aço, sequer uma das muitas grades, quanto mais uma das inúmeras paredes, muros e fossos que mantém a lucidez anulada.

A luz, iluminação, lucidez.

Desde o momento de nascer e através de cada mínimo segundo de qualquer vida, tudo conspira para cobrir, aprisionar, limitar, obnubilar sua lucidez com miseráveis matemáticas, regras estúpidas, convenções sem sentido, compromissos inúteis, religiões sufocantes, ideologias e leis de escravidão.

Tudo espessando trevas que escondem o que é e o como é, só restando esse real. 

Emanado de um rei mesquinho e cruel, constrói nas trevas a realidade que lhe convém.

Posso seguir lutando por toda minha vida, numa saga que é a soma de todas as batalhas, não vou conseguir remover nem uma simples algema que impede você de abraçar a lucidez.

Compreender os movimentos dos astros e dos átomos, a motivação das massas humanas, a razão dos comportamentos, os ciclos intermináveis e os motos contínuos.

Saber com lucidez, simples assim.

Sem preconceito, doutrinação ou dogmatismo.

Luz que rasga as trevas, desarma e desfaz a prisão do real imposto.

Ver de verdade, com olhos de alguma coisa que é maior do que a alma ou o espírito, essas invenções do irreal, outra invenção do real.

Lucidez.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Respeitar, Cuidar e outras inversões de valores

Todos nós concordamos que esse planeta Terra no ano 2012 é patético.

Observado em profundidade, atingiu um estágio previsível. A fase da inversão de todos os valores e corrupção de todos os ideais.

Desde suas pequenas atividades cotidianas, até os eventos globais mais abrangentes, todos os habitantes sempre fazem a escolha óbvia entre o CERTO e o FÁCIL,optando sempre pelo caminho mais livre e a opção que lhes seja mais prazerosa.

Vai aí alguns exemplos.

TRAFEGANDO

Para locomoção entre a casa e o trabalho, para o lazer, aquisição de gêneros, para a escola e compromissos sociais, usam diversos meios de transporte pelos caminhos comuns (ruas) de suas cidades.

Nesta circunstância, revelam-se e expõem-se.

O PEDESTRE

Começando por aqueles mais frágeis que se locomovem por meios naturais, andando, percebemos que não respeita regras básicas de sobrevivência. Percorre qualquer espaço sem cuidado e utilizando aparelhos que diminuem sua atenção e espera que os outros meios de transporte o respeitem por sua fragilidade.

Sendo o mais frágil cabe a esse "pedestre" respeitar todos os outros meios de transporte.

O CICLISTA

O seguinte na hierarquia do trânsito é o CICLISTA, aquele que usa meios mecânicos movidos por seu esforço muscular. Usa todos os espaços disponíveis para trafegar. Pelas calçadas destinadas a separar as casas das ruas e que ocasionalmente são usadas pelos pedestres;
pelas ruas destinadas a uso dos veículos movidos a motor de combustão, sendo praticamente ilimitado o seu acesso a todos os locais públicos e privados.

Para corroborar sua atitude, costuma invocar seu "direito de ir e vir", que seu modal é não poluente e sustentável, e espera o respeito dos outros meios de transporte acima dele na hierarquia.

O MOTOCICLISTA

Meio de transporte em duas rodas, movido a motor de combustão de combustível fóssil, trafega por todos os caminhos usados pelo ciclista, quando está legalmente limitado ao uso das ruas. Por estar exposto ao ambiente, é considerado frágil e espera igualmente o respeito dos automóveis e demais veículos de grande porte.

Em outros tempos era considerado um transporte ágil, com apelo até mesmo romântico, mas atualmente é utilizado pelas classes sociais que não tem acesso a veículos de maior valor.

Seus argumentos principais são: paga impostos como qualquer outro veículo, circula livremente entre os demais veículos e exige essa prerrogativa, exigindo o respeito de todos os outros meios de transporte e não respeitando nenhum. 

 O MOTORISTA

Veículo de quatro rodas movido a motor de combustão. Modal dominante, é meio de transporte individual ou de pequenos grupos, agregando velocidade, relativa proteção ao meio e privacidade. Está limitado a circular nas ruas ou vias públicas.

Sua atitude básica consiste em exigir o respeito de veículos maiores e absolutamente não respeitar nenhum outro meio de transporte.

ÔNIBUS COLETIVO

Veículo de grandes dimensões, com capacidade para levar grande número de pessoas, normalmente subsidiados pelo poder público.

Circula exclusivamente pelas ruas e mesmo em vias exclusivas para seu uso e invoca a suprema prerrogativa de ser um transporte público com perfil popular.

Revestido de grande importância social, não está sujeito às regras e leis normais. Raramente obedece à sinalização e impõem sua presença por seu volume agressivo.

RESPEITAR E CUIDAR

Em qualquer agrupamento de seres vivos, sempre prevaleceu a regra báscia de RESPEITO AOS MAIORES E MAIS VELHOS.

Um ser vivo agregado a outros sempre respeita aquele que é mais forte, com o qual se relaciona com cuidado para não gerar conflito e choque, uma vez que é grande a possibilidade de sofrer ao enfrentar alguém que é mais corpulento ou está melhor armado.

Em qualquer sociedade, sempre é repeitada a sabedoria e a autoridade daquele que é mais velho ou tem mais conhecimento, pois é grande a probabilidade de que seu conhecimento e sua experiência lhe dê maior vantagem em qualquer confronto.

Assim, o menor respeita o maior, o mais fraco respeita o mais forte, o mais burro respeita o mais inteligente.

Enquanto isso, O MAIS FORTE CUIDA DOS MAIS FRACOS.

Numa sociadade qualquer, os adultos cuidam das crianças, os mais fortes cuidam dos mais fracos, os mais sadios cuidam dos mais doentes. Se o mais forte abusa do seu poder, vai causar a organização dos fracos contra si. É inexorável.

Mas, cuidar dá trabalho. É preciso estar atento à sua volta, reduzir seu ritmo para atender aos mais lentos e frágeis e, acima de tudo, possuir a humanidade dentro de si.

Assim, é mais fácil exigir que o outro cuide de você.

É mais fácil esperar que o ciclista e o motociclista trafegue apenas onde lhe é permitido e na velocidade razoável.

É sempre mais fácil exigir que os maiores respeitem os menores que não respeitam ninguém.

Mas não é NATURAL.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Divino Vinho

Vinho velho, old vine. Divino vinho. Aquela raiz de aparência frágil, fincada no meio do jardim, podia ter mais de dois mil e quinhentos anos. Era a época errada e ainda estava recém podada, seca como a terra, os tijolos rodeando à sua volta e tudo o mais naquele jardim miserável.

Antigamente, ou até uns anos atrás, todo aquele bairro era originalmente um grande parreiral a espalhar-se por todo o vale, subindo as encostas ao sul, oeste e leste, onde o sol iluminava por mais tempo. Com o tempo, a cidade se expandiu, envolveu tudo e mudaram os costumes. Antes, o primogênito herdava toda a propriedade e a mantinha inteira, então passou a ser dividida igualmente entre os muitos filhos, fracionando a terra em pedaços cada vez menores e na mesma proporção em que as famílias ficavam maiores, cabendo muito pouco a cada um, quase um nada onde erguer uma morada. Muitos venderam a estranhos esse muito pouco que lhes coube e foram para longe, atrás das próprias oportunidades. Erodido, sufocado, o parreiral encolheu até acabar ali, naquela raiz mirrada e retorcida, a casca aberta expondo a carne e os veios, como pele arreganhada e seca de uma velha de quase três mil anos.

Assim, perdeu-se a memória dos dias de uvas colhidas por multidões de mulheres e crianças, esmagadas pelos homens e meninos, recolhido o sumo e acalentado para resultar no vinho mais precioso da antigüidade.

Até mesmo Nero bebeu o vinho saído dali. Ele e outros abençoados com a oportunidade de beber o melhor vinho que se tem notícia. Só seguir o caminho inverso das rotas comerciais. Os carregamentos mais protegidos dos ladrões e salteadores partiam de algum lugar ao pé daquela raiz. Ordens antigas, registradas e arquivadas através dos tempos, comprovavam que os imperadores romanos mandavam legiões até aqui, para escoltar as encomendas. Napoleão destinava regimento inteiro para trazer tokai à sua mesa. Perto dali, florescia criação de ovelhas abatidas apenas para fornecer mantas de lã usadas para proteger os cântaros durante a longa viagem. Envoltos em pele, seguiam em lombo de camelo até os barcos fenícios, depois em carroças e nas costas de escravos até os palácios dos senhores da antigüidade. Mesmo agitados por todo o percurso, diziam que chegava ao destino tão bom que parecia retirado de uma adega quieta e temperada, onde houvesse permanecido o tempo necessário para descansar.

Era fácil acreditar na história. Entre os muros altos do quartel, onde os mercenários aguardavam os carregamentos que deviam escoltar na longa viagem até o mar, ainda existiam adegas enormes que mais pareciam cofres , usadas para armazenar o vinho, acumulado até o limite da capacidade da caravana. Outros indícios confirmavam a lenda. A riqueza dos homens que a produziram ainda era visível por seus castelos e muitas lendas que o desperdício e a soberba alimentou. Desde a produção até chegar à degustação, todos os envolvidos fizeram fortunas com o produto daquele vinhedo.

Tudo bem construído e comprovado por evidências históricas, apontava para aquele local. Para qualquer um, mas não para ele. Ali, ajoelhado sobre sua descoberta, rindo de toda essa bobagem. Meio bêbado, é claro, mas não mais do que bêbado, ainda segurando a garrafa onde restava uma boa metade a ser bebida. Levantou a garrafa até os olhos, vendo o sol poente do outro lado, rindo da fortuna despendida pelo seu conteúdo. Lembrando que apenas dinheiro não fora suficiente para comprar, também muitas relações certas, paciência, persuasão em diversos graus e algumas iniciativas descaradamente criminosas. Olhou para a raiz e perguntou a ela como poderia ter dado origem ao álcool que a embebedava, se não produzia um cacho de uma sequer nos últimos trezentos anos. Só símbolo de família decadente. Resto de glória. Tolice de velho.

Já estava ali por algumas horas. Molhando a boca devagar, bochechando suavemente para abrir bem as papilas; diretamente do gargalo, contra todas as regras de decantação em círculos sofisticados; cuidando para não desperdiçar gota alguma. Quando as papilas saturavam, esperava a saliva limpar a boca, restaurando o sentido, recomeçando em pequenos goles, atento a qualquer mínima alteração em sua cabeça. Tão concentrado, parecia acompanhar o vinho impregnando seu sangue, irrigando cada glândula e todas as partes de seu corpo, penetrando docemente em seu cérebro para desabrochar sensações de leveza, certeza e plenitude. Sua boca desejava cantar. Contaria em cantos a verdade que reconhecia naquele momento, Tão desperto e pleno de compostos químicos perfeitos e, ao mesmo tempo, absolutamente comuns ao mais vulgar e descuidado vinho, semelhante ao bebido pelo humilde trabalhador, desses adquiridos por dois dólar a garrafa em qualquer parte. Os mesmos compostos químicos associados em proporções que separam o vulgar do extraordinário.

Entorpecido e quase fora de si, desejando desprender-se do corpo como de um invólucro precário, sentia-se capaz de responder a qualquer pergunta, sobre todas as coisas, pois sabia todas as respostas sobre si, as coisas, qualquer um, o mundo e outros mundos. Estava guardando a garrafa para aquele momento, carregado para cima e para baixo por toda a Ásia durante os últimos cinco anos, até o dia em que encontrasse a sua fonte.

Agora, sabia ter aberto na hora errada, muito longe de ter encontrado o vinhedo que o gestou. Sabia ter perdido seu tempo e que fora conduzido por sinais óbvios, mas despistadores. Como se ele próprio tivesse criado um universo à sua volta para confundir seus próprios sentidos. Tudo arrumado para seduzir por pistas que se interligavam e aparentemente remetiam a outras por conseqüência lógica, todas evidentes demais para conduzir a um segredo desse tamanho.

Bebia mesmo assim, pois o perfume que evolou do gargalo lembrou de imediato o cheiro quente e doce de uma vagina desejada, fértil e saudável, só sentido uma vez dentre as coxas da mulher mais amada de sua vida, penetrando em seu nariz com a emergência de algo que iria sumir para sempre se não fosse imediatamente penetrada. Evocava a imagem forte do supremo prazer oral que jamais sentira. Sua boca tremia de tão contida em economizar cada gole, resistindo à tentação de beber tudo de uma vez até mergulhar num turbilhão de onde não interessava fugir e tinha certeza de não conseguir escapar. Esforço para resistir à tentação de se embebedar completamente, procurando o efeito máximo que os setecentos e cinqüenta mililitros pudessem proporcionar. Deter-se em deixar cada pequeno gole encontrar seu caminho pelos cantos da boca, abaixo da língua para encontrar as glândulas salivares, sobre a língua sempre antes pressionada contra o palato para escancarar cada papila, sentindo seus pobres sentidos humanos dependentes de um complemento além de suas limitadas possibilidades.

Por isso estava sereno. Flutuando, bêbado, iluminado, absorto. Tudo nem tanto quanto desejariam, mas sereno.

Pois todos os cinco anos perdidos junto com seu dinheiro e credibilidade, tudo o que possuia de algum valor, para chegar àquela raiz patética, remetia para outro caminho. Uma teoria louca, sem nenhum sentido e absurda. Improvável e ao mesmo tempo correta, única explicação para tantas pistas e evidências falsas plantadas para dar em nada.

Só, isolado no jardim murado de uma casa vazia, a noite chegava como manto perfeito para esconder descobridor e descoberta. Quantos saberiam? Uns poucos. Ele apenas achava que sabia. Mais! Tinha certeza de sua conclusão! Todas as histórias de uma cepa preciosa, origem de todas grandes estirpes atualmente famosas na Europa, eram engodos. Apenas plantas cuidadosamente selecionadas por gerações, para produzir o melhor vinho possível ao engenho humano. As descrições de um vinho raro, originário desse exato ponto na Ásia não eram exageradas, mas resultado da propaganda possível naqueles tempos. Sua existência era real, seus atributos é que eram inverossímeis.

Inundado pela paz perfeita, todos os pensamentos pareciam direcionados, desembaralhados, vendo o sentido oculto nos pequenos detalhes que reunira por toda vida. Como uma alucinada tela abstrata que se contorcesse, adotasse coerência de cores e formas até apresentar uma paisagem realista, uma fotografia nítida do tema que sempre perseguiu. O Graal do vinho!

Quando o maior dos Médicis agonizava, pediu que lhe trouxessem uma ânfora com um certo vinho, guardada entre as riquezas de seu enorme tesouro, escondida onde a cobiça de seus secretários podia ser ludibriada. Ao beber o último gole, os curandeiros e reis ao seu aldo apenas imaginavam o que seus olhos viam para além da morte e o que sabiam dessa vida, quando finalmente sorriu em beatitude, dizendo ser tudo o que queria levar desse mundo e que ficassem os homens com seu ouro, domínios, poder e todo o resto do mundo.

No templo de Delfos, as mulheres bebiam pequenas doses de uma poção mágica que lhes abria os sentidos para o amanhã.

Ricardo, Coração de Leão; Felipe Augusto e Frederico Barbarruiva, beberam a última garrafa então restante no Mundo Cristão. Era o ano de 1.188. O Papa Inocêncio III ofereceu três taças de ouro aos reis cristão, revelando que só haveria mais se fossem libertar o Terra Santa dominada pelos muçulmanos. Eles partiram, mesmo Frederico, sabedor da eminência de sua própria morte. Às portas de São João D’Acre, seu filho, também Frederico, delirava por um gole de vinho, feito em algum lugar entre Tiro e Jaffa, aprisionado nas garras do sultão Saladino.

Intrigada com as teorias de um navegador italiano, a rainha da Espanha brindou sua loucura, testando as histórias que os velhos servos contavam sobre um vinho muito antigo em sua adega. Inebriados, risos infantis eram ouvidos pelos servos curiosos, confirmando que a empreitada nada tinha de insana, levaria seu reino a uma riqueza jamais imaginada. Consumir aquele líquido precioso foi um excelente investimento.

“Beba, Michelangelo, para dar vida à sua criação.” E o artista tomou das mãos do velho Papa uma taça de vinho. Então raspou as paredes sobre as quais se aplicou durante anos, pois eram apenas pálidos rascunhos do que podiam ser.

Quando Merlin provou pela primeira vez o vinho da verdade, sequer convenceria o mais tolo aldeão de suas habilidades, nem mesmo a si próprio. Depois, todos os poderes lhe foram dados.

Até hoje, os sacerdotes arremedam com um vinho qualquer para estabelecer ligação com Deus, invocando o tempo em que os apóstolos beberam o vinho verdadeiro, sangue do Cordeiro, fluído vital do Messias, veículo de ligação entre suas pobres almas mortais e o Divino, levando às suas bocas palavras de sabedoria em todas as línguas, aos olhos a certeza, aos gestos o poder.

A verdade no vinho. A bebida dos deuses. In vino, veritas. Metáforas do mesmo vinho perfeito capaz de levar um simples homem ao saber pleno, despertando toda sua capacidade mental enquanto percorre suas entranhas e desperta dons escondidos, cada um segundo sua necessidade. Fazendo de alguns, visionários fadados ao sacrifício e de outros, eleitos pela sorte, à riqueza absoluta. Dá a alguns poder e glória, a outros dá a verdade como fardo esmagador. Para muitos, dádiva apenas quando percorre suas veias, aciona glândulas, aguça sentidos e amplia o cérebro, deixando a frustração do cego que pode enxergar apenas por alguns momentos.

Tantas pistas por todo lado, dando num dia dois mil anos atrás, quando um pescador estranho resolveu abençoar os cântaros de água e torná-la vinho. Daquele dia em diante, toda água guardada naqueles cântaros se transformava em vinho, mas não um vinho qualquer. O mesmo vinho da ceia entre os apóstolos, o mesmo vinho que invocou o pescador morto e fez descer sobre eles a iluminação.

Guardadas como relíquia, passaram a garantir aos devotos a sabedoria para sobreviver num mundo hostil. Tão bem guardadas que nem mesmo rumores eram conhecidos, apenas seus efeitos. Ocultadas dos muçulmanos, escondidas de todos os homens, longe do alcance e do conhecimento de todos, provado por pouquíssimos que se tornaram grandes e muitos que se tornaram iluminados. Uma simples gota não tinha preço, uma garrafa custava toda a fortuna de um homem, não importa quanto seja.

Sabia disso agora, como se tivesse vivido sempre num mundo escuro,

terça-feira, 3 de abril de 2012

Deus me chamou para um recall

Atenção todos os seres humanos
que sentem que tem alguma coisa errada.
Que não entendem o que está acontecendo.
Que nunca tiraram carteira de motorista nem título de eleitor.
Que não sabem mandar e nem obedecer
e não entendem porque tem que ser sempre assim.
Que não acreditam em ninguém
que esteja ganhando dinheiro para mentir.
Que detestam gerar riquezas para terceiros.
Que suprimem abraços e sorrisos que doem tanto não dar.
Que simplesmente não acreditam na desumanidade dos humanos.
Que não entendem a masculinização da fêmea
e nem o oposto disso.
Que não estão nem aí se há pessoas de raça, credo ou time diferente.
Que sabe: diferente é só você, mesmo.
Deus está convocando vocês para um recall.
*
Atenção cada um que não esquece,
que sabe pensar por si mesmo,
que sabe amar além de si mesmo,
que não trabalha só para si mesmo.
que morre um pouco a cada ato violento na TV.
Compareça para um recall.
*

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Alma que Ocupa o Corpo

Sou a alma que ocupa este corpo.

Houve outros, em tantas outras vidas,
poucas memoráveis
e muitas tão medíocres como essa.

Essa alma repleta não reclama de vidas demais,
mas de lembranças de menos.

Surgida em meio a pessoas 
tristes, torturadas e sonhadoras,
todas tão pequenas.

Transitei por amores fugazes,
e amizades de interesse,
coletando tristeza e decepção.

Entre corpos que possuem almas
não existe compromisso nem sentimento.

Sou a alma que ocupa um corpo.
Portanto, nunca duvidei.
Não há final, só o recomeço
ao definhar da carne.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A RioSãoPaulização do Brasil

Um dos sábios que orientavam minha geração, tornando o mundo mais verossímel, era Marshall McLuhan. Ele me avisou que o Mundo era uma Aldeia Global, cada dia mais aldeia graças à rapidez dos transportes e instantaneidade da comunicação.

Só não me avisou da extinção da sabedoria, substituída pela abundância de informação.

Nem me alertou que nessa aldeia viveriam seres que retornaram a estados mentais primários e primitivios.

Em seus últimos dias, o mestre concluía, horrorizado, que não houve a Globalização do Mundo.

Aconteceu a Americanização do Planeta.

Assim como uma marcha adota o ritmo do mais fraco de seus integrantes, todo o grupo é forçado a ser igual ao mais forte dentre eles.

Paralelo a esse fenômeno, o Brasil vê acontecer a RioSaoPaulização do Brasil.

Palavra feia? O riosaopaulizado resiste como qualquer traumatizado fugindo da dor.

Consumindo seus produtos, seja culturais ou de subsistência. Aceitando sem pensar seus heróis e celebridades. Ouvindo sem trégua sua mesma Música Popular Brasileira feita no Rio e em São Paulo. Adotando suas fórmulas, rejeitando seus vilões. Pagando dez vezes mais para ouvir o mal-envelhecido cantor e os zumbis que o acompanham.

Recusamos pensar, esquecemos nossos poetas e abandonamos nossas fórmulas.

Desistimos.

* * * * * comentário inteligente * * * * *

Caro Agente Sentimental

Acredito que essa sua análise está uns vinte anos atrasada.

Até podia ser que São Paulo fosse o modelo do Brasil, mas isso é passado. 

Naquele tempo, os produtos que voce consumia eram todos feitos em território paulista, de carros a bolachas. Mas, hoje, o Paraná fabrica carros, alimentos e todas as outras coisas. Igual a Minas e Bahia.

Até podia ser que o Rio de Janeiro fosse o berço de toda a MPB, mas isso já era, só se o funk agora tambem é MPB.

Mas tem uma coisa muito pior acontecendo: a saopaulização do carnaval carioca.

Veja como a estética chapada e industrial de São Paulo invadiu a estética antes cheia de texturas e detalhes do Rio de Janeiro.

Até você é capaz de ver isso.

Compare qualquer igreja carioca com as igrejas paulistas.

Todas as igrejas de São Paulo,  do mosteiro de São Bento à Catedral da Sé, parecem um galpão de fábrica. Paredes nuas com uma ou outra figura, a Via Crucis e um e outro desenho discreto. A pessoa se sente um operário lá dentro.

Nas igrejas cariocas é total abundância de altos e baixos relevos, florzinhas, anjinhos, texturas, detalhes  arquitetônicos, tudo espalhado em cada centímetro quadrado gloriosamente barroco.

E essa diferença era evidente no desfile de carnaval.

Mas isso é coisa do passado. A cada ano que passa o carnaval carioca se parece mais com o carnaval paulista.

É o carnaval com temas marketeiros, projetado no computador, industrializado e "disponibilizado" para o mercado.

Blocos de cores chapadas com fantasias insossas. Carros sem arte e apenas decorativos, cheios de celebridades deslocadas no meio da nudez sem propósito. Tudo feito por molde e regramento.

É a arte popular por atacado.


Isso sim é que é triste.

Queria ser Joãozinho Trinta e poder falar isso para todo mundo ouvir.


assinado: carioca da gema anônimo.

*********comentário estúpido**********

Senhor Agente Sentimental
Primeiro, sem sentimentalismos! O Brasil já está cansado da ditadura política, econômica e cultural que vem de São Paulo e do Rio de Janeiro!
É preciso dar um BASTA nessa servidão! 
O nosso movimento separativista tem exatamente essa função: criar um Estado Soberano no Sul.
Junte-se a nós para somar forças e mentes que hão de criar um novo País, livre do fardo de regiões sub-desenvolvidas, com novas e mais severas leis contra a impunidade, senhor e fruidor de suas riquezas. 
E como se não bastasse, ainda temos que engolir a arte vadia que vem da Bahia!

assinado: pampeiro anônimo 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Hordas e Rebanhos


Você integra uma Horda ou um Rebanho?

Talvez sequer saiba qual a diferença entre um e outro, então é preciso que seja esclarecido.

Uma horda é um aglomerado humano indisciplinado com um objetivo comum. Tem por finalidade a violência, ou a satisfação de necessidades hedonísticas, ou sobrepujar uma força contrária. Sua motivação é sempre extrema, seja por fanatismo religioso, esportivo ou político. Seus membros podem ser de qualquer idade, mas são mais comuns os jovens.

Um rebanho é um aglomerado humano disciplinado, onde cada integrante tem seu próprio objetivo, normalmente comum a todos os outros membros. Tem por finalidade a coexistência e a obediência às regras do seu meio. Sua motivação é a segurança e a crença na validade das regras sob as quais vive. É desejo das regras que o rebanho se mantenha ordeiro e produtivo, garantindo assim sua sobrevivência,

O habitat natural da Horda e do Rebanho são os locais públicos, ruas, praças, estádios e templos.

Se você integra naturalmente a Horda, pode ser um indivíduo com necessidades especiais e diferentes, que exigem desobediência às regras para que venham a ser satisfeitas. Ou pode não ter necessidade nenhuma e integra a Horda apenas para obter emoção.

Se você gosta da sensação de anonimato que lhe permite realizar atos que jamais exteriorizaria como indivíduo, a Horda é o seu ambiente. Nela, cada um é chefe e comandante e a única regra é agir com fanatismo, violência e intolerância.

Se seu temperamento é passivo e gregário, seu lugar é num Rebanho. Por aceitar e obedecer regras bem claras, atuando de acordo com todos ao seu redor na esperança que sua segurança e sobrevivência nunca seja posta em risco, o Rebanho é seu meio natural.

Se você gosta da segurança e da previsibilidade, pois as regras existem e existem alguns membros dedicados a manter a ordem por essas regras, fique no Rebanho.

Mas, tudo bem, você está num local público qualquer, junto com milhares de pessoas mais ou menos iguais a você, todos fazendo alguma coisa qualquer juntos, quando a desordem começa e se espalha. Enquanto o Rebanho foge assustado, a Horda se manifesta com fúria. Mas não está escrito na testa de cada um qual é sua natureza e as regras se aplicam a todos. E elas prescrevem que a ordem seja imposta ao caos.

Se você não é Horda nem Rebanho, tem outras opções. Tendo recursos financeiros, pode ser membro de um Clube, que é local onde cada um é escolhido e selecionado segundo critérios rígidos e obediência total às regras. Se prefere obedecer a outras regras, pode fazer parte de um Bando ou Gangue. Se suas regras não são desse mundo, pode fazer parte de um Grupo religioso.

Se você não compartilha da docilidade do Rebanho, nem da ferocidade da Horda, pois não sabe obedecer e muito menos sabe mandar, não tenho esperanças para você.


Não vai ficar feliz num Rebanho, nunca vai ficar contaminado pela Horda, não verá sentido em qualquer outra aglomeração de pessoas. Vai ter que ficar na sua e só, secretamente esperando que o mundo um dia mude e que as coisas deixem de ser assim tão animais.

Provavelmente, voce é diferente por ser um Humano. Com certeza, não vai encontrar humanos em grandes grupos, pois são muito poucos nesse mundo.

Enquanto isso, evite animais.