domingo, 22 de junho de 2014

Eu estou muito cansado

Eu estou muito cansado

De ter que levar esse tempo em minhas costas,
De precisar sorrir diante da alegria ilusória,
De sorrir mesmo quando cresce a solidão.
Eu estou muito cansado
Por correr em brasas um ritmo descalço,
Por amar e me enganar ao sonhar comunhão,
Por viver num espaço simulado.
Eu estou muito cansado
Por viver com um desejo impossível,
Por nunca ter sabido a razão que movimenta
E desejar esquecer o meu desejo.
Eu estou muito cansado
De buscar um centro ao universo
Num planeta que rola sem destino.
De encontrar em minha porta, todo tempo,
Fechaduras, trancas, guardas e indiferença.
Eu realmente estou muito cansado
Da fome e do medo, andar e correr,
De sonhar e viver restrito num amor.
De pensar e chorar e acabar caído no chão.
Eu estou muito cansado
De saber o pouco que me resta,
De pouco ver do muito que me mostram,
E de esquecer do nada que me espera.
Eu estou muito cansado.
De olhares cheios de angústia,
Do saber que é só ignorância,
De palavras jogadas ao vento
E do nada que tudo já se torna.
Eu estou muito cansado
Do tempo, espaço e consciência,
Do fogo, água, terra e vento
E do éter desconhecido esquecido.
Eu estou muito cansado
E que o céu me espere e perdoe
Pois o cansaço é o muito pouco que me resta
Da vontade de um dia... sei lá!
Meu cansaço é o retrato de meu tempo,
Que lá vai e se desmancha com o vento.
Eu estou muito cansado
E quero o que me resta nesse mundo
Num só tempo, sem espera e adormecido.
Eu estou muito cansado
E já basta essa história comezinha
De pautar a vida por desencantos.
Chega de viver voltando atrás
Por trilhas marcadas por lágrimas.
Rastro meu de sangue e lágrimas
Por esses velhos caminhos cansados.