quarta-feira, 2 de março de 2011

Vítima de Preconceito

A vida inteira fui vítima de preconceitos.


Desde quando me lembro, alguém ou um grupo sempre me discriminou por este ou aquele pretexto. Deixo de lado o período da infância, quando as crianças são cruéis por natureza, quando vivia mais com o nariz enfiado num livro do que brincando e passo logo aos muitos episódios de constrangimento.


É bom esclarecer que sou branco, de olhos azuis e cabelos castanhos, hétero, com 1,78 m de altura e 62 quilos, com biotipo caucasiano padrão e leves traços eslavos, como o queixo largo e o nariz ligeiramente maior do que a média. Só ligeiramente. Aos 53 anos, ainda com muito cabelo e uma incipiente tonsura no alto da cabeça. Assim, nem gordo, nem baixo, nem negro, nem careca e, pensando bem, nem mulher, todas essas vítimas estereotipadas de todo tipo de preconceito.


Chegando em curitiba, quando adolescente, um imigrante caipira.


Respeitei demais uma namoradinha, ela me chamou de viado.


Louro e com esse sobrenome, polaco é um negro virado do avesso.


Dono de escritório contábil aos vinte anos, um piá de bosta.


Magro, um pau de virar tripas, dois palitos enfiados num sabugo.


Motociclista, um elemento suspeito, violento, irresponsável e avesso à autoridade, Resumindo, um maconheiro vagabundo.


Estudante de faculdade paga, incapaz de passar na Federal.


Psicólogo, um ouvido de penico, um médico frustrado fazendo curso mais fácil e barato.


Contador, um sujeito aborrecido, burocrático, procurado sem cerimônia para fraudar imposto, arrumar um tempo de serviço fajuto para aposentadoria ou sacanear um empregado.


Agente da SBAT, direitos autorais no teatro, um corrupto ou corruptível a quem se oferecia propina a troco de vantagens.


Agora curitibano, quando viajava as pessoas estranhavam ao descobrir que eu não era nem antipático e nem frio.


Com esse sobrenome, sempre esclarecendo que não era judeu.


Passei em primeiro lugar em concurso da Fundação Cultural e fui trabalhar em museu, era chamado de bailarino pelos outros funcionários municipais e de contador metido a artista pelos colegas de Fundação.


Andava com pessoal de teatro e de novo me chamavam de viado.


Amigo do Jean, que seguia o Inri Cristo, me chamavam de maluco.


Restaurador e encadernador, um artesão ignorante.


Morando em Colombo, um vileiro de periferia.


Carro com placa de Colombo, qualquer bobeira na rua e me xingam geograficamente.


Será que o discriminado às vezes sente vontade de ser outra pessoa? Sendo outro, enfrentaria outros preconceitos. Se fosse garoto rico seria chamado de filhinho-de-papai, se tivesse porte atlético seria apontado como pitbul descerebrado.


Não tem saída prá ninguém.


Só tenho que dar graças por ter tido amigos e às vezes ter sido amado, a despeito de tanta discriminação e preconceito.

Um comentário:

  1. Sei exatamente como é isso. Você nunca é bom o suficiente para ninguém, e sempre que expressa a sua opinião ela deve corresponder aos anseios de que pediu, ou você será tachado "anormal".

    Só "resolvi" essas questões no dia em resolvi deixar esse pessoal "conversando com a minha mão" e fui viver minha vida!! :D

    Ótimo texto! Adorei!

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