quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Eu e Frans Krajcberg

Hoje morreu um sujeito extraordinário.

Conheci Frans Krajcberg quando eu era funcionário da Fundação Cultural de Curitiba, em 1995.

Fiz o concurso mais para acompanhar a ex-mulher e o irmão dela, sem muito interesse. Mas, passei em primeiro lugar e escolhi trabalhar no Museu Metropolitano de Arte.
A cidade passava por uma fase de grandes exposições, com muitos bons espaços culturais, museus e cinemas.
Uma das melhores foi a do Frans Krajcberg.

Na sala de baixo, fotos impressionantes e pungentes de queimadas. Na sala principal, suas esculturas e telas.
Acontece que ele veio junto com as obras, para supervisionar o transporte, dar retoques finais nas esculturas e cuidar de sua apresentação. Ele e o Zé do Mato, seu ajudante.
Acompanhando o mestre, conversamos bastante sobre suas técnicas, como e onde foram resgatadas as enormes raízes, cipós e troncos, o uso de pigmento natural extraído de argilas de Itabarito e muita conversa fiada também.

Falei também de meu trabalho em encadernação clássica, lhe dei um livro em branco, contei de meu desejo de me dedicar somente a isso.

Tem histórias da exposição.

Um dia, chegou um carro enorme com chofer e desembarcou uma mulher, uma menina e um rapaz. Entraram no museu e demoraram além do normal. Fui olhar, a mulher estava sentada no chão do museu, olhando uma das obras. Para resumir, era a herdeira da Klabin, grande indústria de papel onde Frans Krajcberg trabalhou quando adulto. E ela me contou que era uma criança naquele tempo e como conheceu e conviveu com ele. Estava mesmo emocionada.  

A exposição veio e foi.

Meses depois, exposição do acervo de Roberto Marinho.

Na abertura, grande buffet com cascata de chocolate e todas as bebidas possíveis. Estava lá Jaime Lerner o governador, Rafael Greco o prefeito, Orlando Azevedo meu chefe e executor do evento Dr. Roberto em pessoa e quem você puder imaginar do pessoal político e social.

Eu, limpo e asseado, recebendo na porta, os convidados chegando, quando chega o Frans Krajcberg. 

Ignora todos entre eu e ele e vem direto falando lá de longe ainda: "Mas, Pédro, você ainda tá aqui?"

Naquele instante, saltei uns bons dois metros acima de mim mesmo, observando a mim e a todos em minha volta naquela situação repentinamente tão surreal.

Não era comigo aquela situação.

Passada a exposição, pedi exoneração e fui cuidar da vida.

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