sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Fixação de Sinapses Permanentes e Controle Social


O mecanismo de aprendizado é determinado pela formação de encadeamentos mentais. Aprendemos a língua materna de forma natural, aprendemos uma segunda língua com relativo esforço e uma terceira e quarta com facilidade cada vez maior, pois o encadeamento se fortalece pela repetição. É a mais evidente constatação do mecanismo de consolidação de sinapses nervosas, fenômeno fisiológico que ocorre quando nossos neurônios transmitem informações entre si.
Em todos os níveis mentais, assim estabelecemos tendências, preferências e comportamentos sensoriais. Marshall McLuhan, em seu livro “A Galáxia de Gutemberg”, refere-se ao ato de ler como comportamento apreendido, pois a facilidade com que lemos as letras da esquerda para a direita e uma linha após a outra determina a qualidade desse nosso hábito. Além desse, outros sentidos podem ser orientados e educados, como a audição. Ouvindo sonoridade cada vez mais elaboradas, podemos educar nossa audição e apreciar estilos cada vez mais eruditos, até a mais complexa e elaborada ópera.
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Padrões indesejáveis também podem ficar sedimentados. Por exemplo, uma criança habituada a horas diárias em jogos eletrônicos, geralmente musicados com ritmos primários e repetitivos, de baixa qualidade melódica e pior qualidade sonora, vai desenvolver uma irresistível preferência por esses mesmos padrões durante sua juventude e vida adulta, passado a preferir músicas tecno-eletrônicas geradas por equipamentos digitais e não por instrumentos naturais. Até mesmo a preferência pelo som despido dos graves e agudos extremos, eliminados quando um arquivo sonoro é diminuído para ser facilmente baixado, já foi detectada em pesquisas recentes. Um padrão foi consolidado, não admitindo outro para o sentido audição, seja no exemplo da exigência de um erudito ou do padrão popular mínimo.
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A especialização de neurônios e os encadeamentos mentais não é tese a ser provada aqui, pois é matéria de psicologia comportamental e educacional básica, exaustivamente difundida para além dos círculos acadêmicos. Mas sua aplicação é mais ampla do que podemos imaginar, estando impregnada em todas as nossas atividades diárias, naturais e onipresentes como o ar que respiramos e sequer notamos. Descrever cada ação do ato de dirigir é quase impossível, por exemplo. Pode ser identificada com um mínimo de acuidade. É só parar e observar, questionando preferências e identificando tendências que introjetamos em alguma fase de nossas vidas. Ou que nos foram impostas.
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Essa é a questão: As sinapses nervosas podem ser consolidadas para atender a interesses?
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Não necessariamente malignos, dignos de uma delirante teoria de conspiração, mas bem prosaicos, como a associação de cores e sons a um produto comercial, desenvolvido pela publicidade. Ou nossa preferência por filmes americanos, uma língua que mal entendemos, mas selecionamos ouvir por ser tão familiar enquanto lemos a legenda. Por falar nisso, estamos tão massificados pelo hábito, que esse é o mal do cinema nacional: não tem legenda para ler.
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Há uma ciência em desenvolvimento, chamada Neuro-Reprogramação, ainda meio na metafísica e tão respeitada quanto remédios florais, que procura resposta para essas questões, ambicionando estimular bons hábitos e novos comportamentos, desativando hábitos indesejáveis ou limitadores, mas permanece na questão pavloviana, sem encarar o funcionamento desse mecanismo no âmbito social.
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Por décadas, neurocientistas acreditaram que os neurônios eram os responsáveis por toda a comunicação no cérebro e sistema nervoso e que as células gliais, embora nove vezes mais numerosas que os neurônios, apenas os alimentavam.
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Novas técnicas de imagem e instrumentos de “escuta” mostram que as células gliais se comunicam com os neurônios e umas com as outras sobre as mensagens trocadas pelas células nervosas. As células gliais são capazes de modificar esses sinais nas fendas sinápticas entre os neurônios e podem até mesmo influenciar o local da formação das sinapses.
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Devido a essa proeza, as células gliais podem ser essenciais para o aprendizado e para a construção de lembranças, além de importantes na recuperação de lesões neurológicas. Experiências para provar isso estão em andamento.
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Perceber a influência da comunicação de massa, seu enorme poder de persuasão através de diversos mecanismos de convencimento, intimidação e ilusionismo, tão potentes que afetam nosso princípio de realidade. Dar-se conta de que diversos extratos da sociedade têm visões do mundo tão diferentes entre si que a própria realidade é relativa. Por falar nisso, “real” é tudo o que emana do “rei”, da autoridade máxima, conduzindo nosso comportamento e préconceituando o universo ao nosso redor.
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O que move você?

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Atualizo o post:

Neuromarketing é uma piração do mercado, travestida de ciência que estuda a essência do comportamento do consumidor, ou seja os analistas de marketing esperam usar o neuromarketing para melhorar as métricas de preferência do consumidor.

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