quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Mapa Sentimental

Dona Arlinda, benzedeira santa, me disse uma vez que
Guarujá, São Paulo, 29 de dezembro de 2013
quem vai para a praia nesta época não descansa. Ao invés de descarregar suas energias negativas, acaba absorvendo a energia negativa do mar sobrecarregado.

Daí escrever esse post: 


Para traçar um mapa orgânico sensorial confiável do Planeta Terra, os técnicos costumam utilizar Fantasmas. Assim denominamos nossos aliados de Betelgueuse, pela transparência de seus corpos. São constituídos de matéria orgânica quase translúcida, composta exclusivamente de elementos nutritivos e cartilagens proto-ósseas, que lhes dá semelhança de gelatina. Recebem o apelido pejorativo de amebas humanóides, mas essa atitude só é comum àqueles que temem os seres muito diferentes. São especialmente valiosos por sua capacidade visual incomum, pois vêem as emanações mentais-emocionais de outros seres vivos e mesmo o resíduo desta tênue forma de energia que impregna ambientes e objetos que cercam esses seres vivos.

O Planeta Terra é habitado por seres que produzem emanações curiosamente intensas e os Fantasmas precisam utilizar lentes protetoras. Essa capacidade de emanar é sempre diretamente proporcional ao equilíbrio e autocontrole dos indivíduos de uma espécie: quanto mais passional e primitiva a fonte, maior a intensidade e dispersão de energias.

Nossos técnicos locais especulam que os Fantasmas também são capazes de sentir as emanações, além de enxergar. Talvez seja essa a explicação para que permaneçam sempre por curtos períodos de observação, logo retornando a seu próprio tempo/espaço. É difícil afirmar qualquer coisa quando nos referimos a Fantasmas, seus rostos são absolutamente vazios de qualquer expressão.

Resumindo os relatórios finais, realizamos alguns testes no nível micro-cósmico para calibrar nossa equipamento e estabelecer um espectro de cores para ilustrar a natureza das emanações. Escolhemos uma família padrão de cinco pessoas observadas discretamente e adaptamos os gráficos para demonstrar sentimentos através de cores. Desta forma, o estado de relaxamento e paz interior razoável é da cor verde. Os estados de alerta e de atenção normais são representados pela cor azul, enquanto os estados de desequilíbrio vão do amarelo ao vermelho, sendo essa a cor do máximo estresse a ponto de ruptura da sanidade do indivíduo.

Os resultados foram óbvios, comprovando obviamente a tese da razão direta entre as situações de conflito interno e interpessoal com as cores emanadas. Calibrado o equipamento e aprovado pelos Fantasmas, passamos à tarefa propriamente dita, usando nossos instrumentos de observação em órbita para análise do microcosmo particular: estabelecer o mapa emocional do planeta.

Todas as regiões do planeta são povoadas quase uniformemente, com maior concentração nos continentes três e quatro. Em todos os aglomerados urbanos os tons vermelhos são dominantes, demonstrando extrema tensão individual e social disseminada universalmente.

Apenas em duas pequenas cidades, a cor verde foi onipresente durante todo o período de um ano terrestre estabelecido pelos protocolos de pesquisa. Locais isolados, em continentes distintos e aparentemente comuns, fogem de forma tão completa ao padrão dominante que serão motivo de pesquisas específicas no futuro.

Eventos sazonais causam curiosas movimentações de massa humana e alterações nos padrões emocionais representados por cores.

Evento: Movimento em massa para as praias.

Hemisfério Sul do continente um, no início do verão.
As médias cidades distantes da costa marítima apresentam coloração geral no mais intenso vermelho demonstrativo da tensão de seus indivíduos. Quase ao mesmo tempo, esta população se desloca em massa para as cidades costeiras onde permanecem por alguns dias.


Ocorre um fenômeno estranho no oceano, que normalmente é indiferente à observação dos Fantasmas, pois permanece constantemente em verde e azul e não é objeto dessa pesquisa. Suas águas lentamente apresentam coloração mais tensa, iniciando perto da costa e se espalhando lentamente, até todo o oceano próximo se tornar intensamente vermelho. Enquanto isso, a massa de indivíduos apresenta cor azulada e, em alguns pontos isolados, atinge o equilíbrio verde. O fenômeno de transferência de energia para as águas do oceano é visível.

Contudo, há um momento de saturação do oceano, que parece ter capacidade limitada de absorção. Então, as tensões armazenadas são devolvidas aos indivíduos próximos das margens, não sendo possível determinar um padrão para esse fenômeno.

Indivíduos onde o alívio de tensões foi mais duradouro, voltam aos aglomerados urbanos onde perdem lentamente o equilíbrio conquistado junto ao oceano, configurando efêmeras ilhas de cor azulada em meio ao vermelho permanente.

As águas do oceano voltam lentamente à coloração verde-azulada, somente recuperadas completamente por força das correntes frias da estação seguinte, meses depois.


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