terça-feira, 13 de novembro de 2012

Lucidez

Tive um sonho esta noite.

Dele acordei com a boca seca, apavorado com a possibilidade de esquecer o sonhado.

Era um sonho em que eu lutava.

De todas as formas.

Às vezes vestido para a guerra, outras vezes quase nu.

Numa hora estava em uma montanha, depois num deserto brilhante e logo em seguida me agarrando para não ser levado por uma correnteza.

Tantas vezes era dia, outras tantas noite fechada e muitas vezes terra e céu todo gris. 

Lutava com uma longa lança, uma borduna gasta, depois com uma pistola antiga, em seguida com as mãos nuas e até com um estranho remo amarrado com um longo tecido, em cuja ponta havia uma bola que feria os inimigos à distância.

Havia homens e mulheres ao meu lado e sempre ficavam para trás ou seguiam muito adiante.

Os inimigos  eram máquinas e cães enormes. Eram demônios e coisas rastejantes. Vinham todos na tocaia e na traição. Estavam nos castelos e nas estradas, nos edifícios e nos casebres miseráveis. Por todo lado e em todas as formas que o sonho ilimita.

Sempre próxima, seguindo meus passos, uma mulher desconhecida gritava avantes e coragens, preemente e intensa.

Deuses! Vou lutar para sempre?

E era boa e feroz a luta. Braços nunca cansados do golpear, olhar sempre atento ao próximo.

Mas, contra o quê eu lutava, afinal?

Contra todas as trevas.

Pois posso eu lutar toda uma saga de Ulisses, grego tolo. Posso lutar tanto quanto lutou Harry Potter, ou todos os companheiros do Senhor dos Anéis, ou tanto quanto cada um dos miseráveis da Guerra dos Tronos, ou todas as batalhas de Alexandre, tudo isso tudo junto e mais qualquer outra que puder lembrar.

Não vou conseguir remover nem uma simples camada que aprisiona a minha mente ou a sua.

Nem a primeira malha de aço, sequer uma das muitas grades, quanto mais uma das inúmeras paredes, muros e fossos que mantém a lucidez anulada.

A luz, iluminação, lucidez.

Desde o momento de nascer e através de cada mínimo segundo de qualquer vida, tudo conspira para cobrir, aprisionar, limitar, obnubilar sua lucidez com miseráveis matemáticas, regras estúpidas, convenções sem sentido, compromissos inúteis, religiões sufocantes, ideologias e leis de escravidão.

Tudo espessando trevas que escondem o que é e o como é, só restando esse real. 

Emanado de um rei mesquinho e cruel, constrói nas trevas a realidade que lhe convém.

Posso seguir lutando por toda minha vida, numa saga que é a soma de todas as batalhas, não vou conseguir remover nem uma simples algema que impede você de abraçar a lucidez.

Compreender os movimentos dos astros e dos átomos, a motivação das massas humanas, a razão dos comportamentos, os ciclos intermináveis e os motos contínuos.

Saber com lucidez, simples assim.

Sem preconceito, doutrinação ou dogmatismo.

Luz que rasga as trevas, desarma e desfaz a prisão do real imposto.

Ver de verdade, com olhos de alguma coisa que é maior do que a alma ou o espírito, essas invenções do irreal, outra invenção do real.

Lucidez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário