quinta-feira, 9 de julho de 2009

Amarga

Amarga é a pouca vida.
Quem, de pouco viver,
A vida amarga,
Amarga o vinho que não bebeu,
Amarga os sonhos que esqueceu.
Amarga o amanhã no hoje perecido,
Com ontens de lembranças sem doçura.
Quem, de pouco viver,
Tem a vida áspera,
Rasga as sedas que vestir,
Rasga os planos que construir,
Rompe os laços com a vida,
Fere o tecido do coração.
Seu toque fere
O suave amor.
Amargo e áspero.
Dor e dor.
Amarga caminhos e perde rotas
Por um mapa impossível,
Cheio de muros e fossos
Gerados em sua feroz amargura.
Amarga o olhar,
Habituado ao feio.
Amarga o toque,
Áspero e seco,
De onde moram os medos.
Amarga tudo
E a vida abate,
Tão amarga e mais pouca
Vai ficando a vida.
Quanto e tanto mais!
E a amargura tem som
Das trompas que me caçam.
A cor provável do último dia,
Do último crepúsculo magenta.
O cheiro penetrante do enxofre
Remexido no caldeirão infernal.
E dá a tudo o gosto
Do mais abjeto nada.
Enquanto aperta o peito,
Fratura as asas
Com toque brutal.
Pois é uma coisa surda,
Muda, insípida e tudo.
Pois nada vê, nada ouve
E se cala à vida que passa
Como se não houvesse
Mais vida que sentir.
Mas,
Tanto mar!
Tanto amar!
E tão amarga.
Só um tolo
Amarga o mar,
Amarga o amor,
Amarga o vinho,
Amarga a vida.
Amarga e só.
Só sendo só.
Até no silêncio,
Mesmo ele amargo
Como só ele sabe ser.
Cheio de tempo perdido,
De coisas não ditas
Ou ditas demais,
No desespero de saber
Que não adoçará jamais.

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