sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O Ano de 2015 - Ideologia

IDIOCRACIA
IDEOLOGIA

Hoje, nossa civilização chegou em um elevado grau de globalização.


Muito mais do que a simples difusão instantânea de idéias, produtos e serviços, chegamos à verdadeira Generalização.

Não existem mais fronteiras políticas entre os países e as culturas. Algumas culturas resistem, outras sobrevivem pasteurizadas pelo colonialismo dos países mais poderosos, enquanto outras simplesmente desaparecem sem deixar registro.

Um guerrilheiro pode estar treinando agora em um acampamento nas montanhas do Afeganistão e daqui a 24 horas estar lutando em qualquer lugar do Mundo. Uma família de africanos está nesse momento atravessando o Mediterrâneo para desembarcar na França ou na Itália e se estabelecer na Europa. Um fuzil AK foi fabricado na Rússia, cruzou os Continentes e  está sendo vendido livremente num Walmart da Pensilvãnia, sem nenhum incoveniente. Os partidos políticos trocaram ideais por projetos de poder, em qualquer lugar do Planeta onde são permitidos.

Fronteiras políticas são anacronismos, mas as fronteiras geográficas são realidade física absoluta.

Demorei anos para entender a frase de Doris Lessing: "A Geografia é a resposta para todos os problemas da Humanidade". Pois li errado. Pensava que a Geografia traria a solução para nossos problemas, quando ela sempre foi a origem de todos eles.

(Aqui citei Doris Lessing completamente errado. Citei de memória de uma leitura de 1983.  A frase correta está na página 295 de Canopus em Argus - Arquivos Shikasta.)
"E a geografia é a chave para a compreensão dos problemas básicos..."

Neste momento econômico, os poderosos países industrializados consumidores de petróleo e gás estão prospectando energias alternativas e reduzindo sua dependência dos países exportadores desses combustíveis, como a região árabe e a Rússia, sendo exemplo ideal a situação da Venezuela. Atividade extrativa passiva, acaba por excluir outras formas de produzir riqueza, como a agricultura, pecuária e indústria, criando situação de dependência. Cai a procura, cai o preço e desanda o equilíbrio social e político nesses países.

Mesmo realidades físicas, as fronteiras geográficas são relativas. Um país da África já foi parte indistinta do vasto Continente, depois foi dividido e tornado Colônia da França, depois conquistou independência política, depois se tornou uma ditadura tribal sangrenta e se dividiu ao meio, depois sofreu intervenção militar estrangeira a pretexto de resguardar a ordem social, hoje é uma democracia falsa sustentada pela França, que dela obtém recursos naturais e humanos a baixo custo. Os argelinos ainda lembram dos massacres! Onde está a União Soviética? 

Resta apenas uma última fronteira ainda sólida em nossa civilização, a fronteira Ideológica.

Quando a Cultura é relativa, pasteurizada ou simplesmente absorvida por outra mais poderosa, deixa de constituir a identidade de uma raça ou de um povo. Ocorre também a erosão da cultura original, quando o Estado elege apenas alguns poucos entre os produtores e geradores de cultura, que são beneficiados com recursos e espaços públicos para se manifestarem, enquanto o restante desaparece por falta de apoio. Isso se chama "cultivar", ou selecionar e preservar aquilo que é do interesse sempre ideológico do governante.

A fronteira Ideológica se consolida e se mantém quanto maior a fé dos seus membros. O sentimento de religiosidade, com suas regras, tabus e mandamentos é o elemento principal nessa equação. Para arrematar, quanto mais frágil e relativa for fronteira política e a fronteira geográfica, mais forte é a fronteira ideológica. Ela não pode ser localizada precisamente nos mapas, pois se espalha por muitos países e para outros continentes. Está onde estão os seus fiéis.

Para nós ocidentais já globalizados, abecelizados, bebecelizados, já aculturados no padrão Americano Centro-Europeu, é difícil entender o que acontece.

Afinal, nossa religião cristã é permissiva, não exige obediência nenhuma, nem frequência, muito menos inspira medo, pois é a religião do perdão. Este é o lugar para onde fomos expulsos do Paraíso, apenas um Vale de Lágrimas para consumir e predar. Nossos compromissos são apenas para conosco mesmos e cada um cuida de si com relativos limites legais. Os padres são pecadores pedófilos e os pastores são pecadores ambiciosos, portanto não levamos o assunto muito a sério. Nossos princípios morais são mínimos, pois há racionalização para tudo e remédio para qualquer mal. Para nós, nada é sagrado.

Mas, para os Muçulmanos, o assunto é sério.

Entre Estado e Religião não há nenhum limite, um não se subordina a outro e entre eles não há distinção. É uma coisa só. O Código Civil e Penal está no Alcorão. Os códigos de conduta também. O Alcorão é a Lei para todos os crentes, estejam onde estiverem, sob qualquer bandeira, em qualquer classe social ou cor de pele.

E um princípio ideológico assim vital para a manutenção da identidade de um povo não pode ser desrespeitado. Quando todas as outras fronteiras faliram e foram extintas, esta é a última a ser defendida. O povo judeu sempre foi o melhor exemplo disso, quando conservaram seus valores culturais e religiosos e mantiveram sua identidade durante séculos.

É muito difícil para nós ocidentais entender isso. É fácil ter alteridade com outra opção sexual, com outra raça ou com outra classe social. Afinal, são todos ocidentais como eu.
Mas quando se trata de forte religiosidade acima de tudo e gerenciando todos os aspectos da vida, simplesmente não entendemos e não aceitamos.

Não estou defendendo ninguém, nem pregando nada.

Estou apenas tentando entender esse abismo.

Tentando entender os atentados terroristas, atos de guerra praticados por entidades ideológicas que agregam membros de muitos países, de diversas línguas e até de raças diferentes, não por Estados. 

As autoridades mundiais que dão sua opinião, expressam suas condolências e prometem proteger o Mundo, não entendem o seu inimigo o suficiente para vencer essa guerra. O sintoma mais evidente de idiocracia é o discurso político padrão aplicado a uma catástrofe ou uma tragédia. Pura alienação. 

No final da II Guerra, com os exércitos regulares sendo vencidos, Hitler mandou os meninos para batalha. Dizia que uma criança com uma carabina .22 podia parar um pelotão. Hoje, quando qualquer dupla de guerrilheiros pode traumatizar o Mundo, já passou da hora de rever estratégias, reorganizar os recursos e fortalecer as ideologias locais.     

Todos os cidadãos comuns que se solidarizam, ficam apenas indignados e passam a odiar o inimigo, fomentando ainda mais o medo. Servem aos propósitos de quem quer que se beneficie com a insegurança mundial, quando se juntam em praças e cobram atitudes dos governos, que estão táo aterrorizados, perplexos e impotentes quanto eles.

Os nossos sábios psicólogos e sociólogos, os acadêmicos que deviam nos esclarecer do real estado das coisas, apenas dizem bobagens. Pérolas de cupidez, como no atentado ao CHARLIE HEBDO",  dizem;  "vejam as armas que eles usaram, se fossem proibidas...",  ou ouvir que foi um "ataque à liberdade de expressão", enquanto para aquele que foi ofendido por esse direito de expressão foi "ataque à agência de propaganda do estado opressor". Para os empresários, donos de um jornal que passava por dificuldades financeiras, foi uma decisão editorial para polemizar ainda mais a questão muçulmana e voltar a atrair a atenção do público, aumentando as vendas. 

Nenhuma solução é possível enquanto o Todo Poderoso do Mundo Ocidental é o Capital e o consumismo é o ideal de todas as pessoas. Esta ideologia está falida, pois implica na escravização de seus membros e promove a alienação e falta de sentido de seu quotidiano.

Um jovem ocidental inteligente e promissor só consegue pensar em se preparar para um concurso público, para garantir acesso irrestrito e permanente ao consumo, salvaguardado-se da insegurança e competitividade do Capital.

Um jovem muçulmano abandona família e país, ingressando em organizações paramilitares para garantir o estabelecimento de sua Lei e o livre exercício de sua religiosidade, salvaguardando-se da voracidade e exploração do Capital. 

Enquanto o Estado se agiganta e afunda sob o próprio peso, as ideologias que transcendem fronteiras e legislações se fortalecem.

Se nós olhamos apenas um lado da moeda e eles olham só o outro lado, como entenderemos o que está acontecendo?

A quem interessa um mundo de idiotas que não conseguem enxergar além de um palmo adiante do nariz?

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