terça-feira, 10 de agosto de 2010

País Sitiado, País Saqueado.

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Ando meio vazio, disse o balão.
Navego sonâmbulo pelo meu estreito universo,
enquanto os Homens de Terno se aglutinam em torno.
São muitos, mas nâo podem voar,
estes homens inflamados de falsa paixão (do que é capaz um homem com desejo!)
esses homens (e mulheres), os mais sedutores dentre eles que nos conduzirão,
aqueles de maior ambição.
Sitiando as cidades, os Estados e o País,
enquanto dividem - destinam - contratam
antecipadamente determinam o destino das riquezas da cidade, do Estado, do País.
Os contratos, as obras, as verbas, os cargos,
tudo bem loteado entre eles.
Estou apavorado, cercado, sitiado, minha vida por outros decidida.
Um roteiro, escrito por alguns, determina o que serei,
quais regras obedecerei,

quanto ganharei pelo meu trabalho,
onde irei, se pudesse ir.
Até onde todos iremos.
Conduzidos por esses sanguinários sedutores.

Grigori Perelman, um Agente Nunca Sentimental

Um homem que transgride as mais estúpidas convenções de nossa Sociedade, apesar de cortejado por seus mais respeitáveis símbolos e assediado com promessas e prêmios delirantes.

A Universidade de Yale ofereceu uma cátedra a esse homem, garantindo que poderia pedir o salário que desejasse, para trabalhar se quisesse e quando quisesse, dando aulas do que bem entendesse e para quem escolhesse. Disse que, se fosse bom, teriam feito o convite antes de resolver o teorema, de qualquer forma, tinha compromissos com seus alunos do ensino fundamental, o que nem era verdade .
Convidado pela Princenton University, pediram a ele seu currículo. Disse que se não sabiam quem ele era, não deviam ter convidado.
Ganhou prêmios que seduziriam qualquer ser humano e disse não, por nenhum motivo ideológico especial.

Grigori Perelman, russo, nascido em 13 de Junho de 1966, é o matemático conhecido por ter apresentado uma demonstração da conjectura da Geometrização de Thurston, que tem como um caso particular a Conjectura de Poincaré, um dos maiores problemas da Matemática. O desafio criado pelo matemático francês Jules Henri Poincaré (1854-1912) estimou que, de forma simplificada, qualquer espaço tridimensional sem furos seria equivalente a uma esfera esticada. (Que diabo é isso?)
Poincaré e os matemáticos que vieram depois dele acreditavam que a proposta estaria correta, mas não conseguiram uma prova algébrica sólida para elevar a conjectura à categoria de teorema.  A complexidade do assunto levou o Instituto de Matemática de Clay a incluir o problema entre os “sete desafios do milênio”. Para cada desafio que fosse solucionado, o instituto prometeu pagar um prêmio de US$ 1 milhão.

Em 22 de Agosto de 2006, no Congresso Internacional de Matemáticos, realizado em Madri, foi contemplado com a Medalha Fields. Recusou. Junto com o prêmio de Um Milhão de Dólares.

O sujeito resolveu a tal Conjectura, não saiu por aí alardeando, só postou na wikipedia e deixou rolar. Quando finalmente ninguém conseguiu refutar seu trabalho, virou "o homem mais inteligente do mundo".
Agora, milhares de jornalistas, colunistas e etcéteras, falam dele depois de manchetes tipo "russo recusa prêmio de U$1.000.000".  Nunca por sua genialidade, por sua aversão às coisas mundanas ou pela proposta objetiva e clara que faz ao mundo inteiro. Mas por ser o sujeito louco que recusa fortunas, comendas  e cátedras ambicionadas universalmente. Se loucura é qualquer desvio da normalidade, então é louco mesmo.

Apesar de viver com simplicidade, com sua mãe,  afirma que já possui tudo o que deseja e que a medalha é irrelevante pois já foi reconhecido.

É um Agente não corrompido pelo sentimentalismo.
Permanece íntegro.
Ao contrário de mim e de você.
rigori PerelmanrussoГригорий Яко� Перельман, transliteraçãoGrigori Iakovlevič Perel'man, 13 de Junho1966) é um matemáticorussodemonstraçãoConjectura de Poincaré, que era um dos maiores problemas da Matemática. Como esta foi apresentada quando Perelman tinha menos de 40 anos, Perelman torna-se um forte candidato a receber uma Medalha Fields. Para além disso, a demonstração, confirmada a sua exactidão, valer-lhe-á todo ou parte de um dos Prémios Clay. ( de conhecido por ter apresentado uma da conjectura da Geometrização de Thurston, que tem como um caso particular a
Em 22 de Agosto2006, no Congresso Internacional de Matemáticos, realizado em Madri, Grisha foi contemplado com a Medalha Fields, tendo-a no entanto recusado. de
Grigori Perelman no mês de março de 2010 resolveu um dos sete desafios do milênio. O desafio criado pelo matemático francês Jules Henri Poincaré (1854-1912) estimou que, de forma simplificada, qualquer espaço tridimensional sem furos seria equivalente a uma esfera esticada.
Poincaré e os matemáticos que vieram depois dele acreditavam que a proposta estaria correta, mas não conseguiram uma prova algébrica sólida para elevar a conjectura à categoria de teorema.
A complexidade do assunto levou o Instituto de Matemática de Clay a incluir o problema entre os “sete desafios do milênio”. Para cada desafio que fosse solucionado, o instituto prometeu pagar um prêmio de US$ 1 milhão (cerca de R$ 1,78 milhão).
Desde que foram divulgadas na internet em publicações especializadas, as demonstrações de Perelman nunca foram refutadas[1].
No dia 24 de março2010, o matemático Grigori Perelman se recusou de receber o prêmio de US$1 milhão. [2] de

O Herói de Pandora


Nossos rapazes em Pandora não morreram em vão.

Na tarde de ontem, chegou finalmente em casa o maior herói da batalha de Pandora, passados 25 anos do dia em que tombou em defesa dos mais puros ideais humanos. Seus restos mortais vieram de uma lua ao redor do gigante gasoso de Alpha Centaury, confins do espaço sem maior importância, não fosse o precioso metal unobtanium. Por capricho da sorte só existe ali. Seus restos mortais foram resgatados pela Cruz Vermelha Espacial e sua filha os recebeu no Porto da Ilha da Páscoa. Era uma menina de 8 anos quando viu seu pai pela última vez, saindo de casa e prometendo voltar décadas depois, para realizar um trabalho que nenhum outro homem poderia encarar.

Selvagem e deconhecido, mas necessário à sobrevivência de nosso próprio planeta, Pandora escondia horrores inimagináveis a qualquer humano. Restou ao bravo Coronel Miles Quaritch a missão de enfrentá-los, garantindo a segurança dos homens e mulheres de boa vontade que foram àquele planeta mortal cheios de sonhos mas só encontraram pesadelos. Durante anos, procuramos levar aos nativos os benefícios de nossa civilização, nossa medicina e cultura, mas pemaneciam em estado de barbárie e apego a superstições obscuras que envolviam sacrificios dos de sua própria espécie e cultos politeístas semelhantes aos antigos Maias que floresceram na América Central no século 12. Cofirma Parker Selfridge, administrador da mineradora em Pandora: "nossa preocupação com a prospecção sustentada de unobtanium incluía investimentos maciços no reflorestamento, remanejo de nativos para casas limpas e confortáveis e escolas para as crianças, mas eles mesmos destruiam tudo e voltavam para as árvores".
Até hoje, o relato dos sobreviventes e as investigações das autoridades ainda não explicaram o que aconteceu exatamente em Pandora. As conseqüências, contudo, foram catastróficas. Mais de trezentos soldados mortos e centenas de feridos. Bilhões em instalações científicas, anos de trabalho perdidos, culminando com o corte no fornecimento de unobtanium. Há vinte anos, o metal não é prospectado em Pandora. Muito usado em equipamentos médicos de precisão, próteses biocibernéticas, naves de curso interestelar, fonte de energia limpa renovável, a falta desse metal fez nossa tecnologia regredir cem anos. Aqueles que viam nesse fantástico elemento a solução de quase todos os nossos problemas, estão desolados.

Se a Batalha de Pandora, que expulsou provisoriamente o Homem daquela lua, foi uma tragédia, Miles Quaritch é a garantia de que a raça humana jamais será humilhada. Ele liderou um punhado de bravos soldados, isolados a mais de seis anos de viagem no espaço, contra o que pensou ser nada mais que um grupo de selvagens rebeldes. Contudo, parece ter se chocado contra um planeta inteiro. "Os animais investiam contra nós como se soubessem o que faziam, foi uma loucura", disse o soldado Edmund Stern, cujo braço foi decepado por um animal na batalha.

Miles Quaritch lutou com as poucas armas que tinha, depois com as mãos nuas, para perecer só e desarmado com o peito crivado de flechas. Lutou praticamente sozinho contra um planeta inteiro, habitado por nativos de quatro metros de altura e feras invulneráveis e foi uma luta invencível, por maior que fosse sua bravura. Annie Marie Quaritch Saldaña, leu entre lágrimas a última carta de seu pai. Falava da saudade que sentia pela filha que não via há dez anos, imaginando-a quase adulta e lamentando não estar junto dela quando ingressou na Universidade de Santiago. Falava do confinamento em que vivia, a salvo da atmosfera venenosa, do perigo constante das flechas dos nativos, mas nunca contou sobre o confronto com uma fera de Pandora que desfigurou seu rosto em seu primeiro dia no planeta, sempre querendo preservá-la. São palavras do pai amoroso e também do soldado disciplinado.

Miles Quaritch Saldaña, que insiste em ser chamado de Tenente Quaritch, afirma, ainda segurando a Medalha de Honra Mundial recebida em nome do avô: integrará a força pacificadora rumo a Pandora daqui a três dias.

Deus os proteja, heróis da Terra!

Quanto Dura o Amor?


O Amor, quando acaba, vira...
Pensamento bonito
Na cabeça de alguém?
Enquanto solto por aí, relegado.
O amor quando termina, vira...
Nada, fumaça, dejetada massa
De onde dois retiraram
Tudo o que era bom.
Haverá um lugar na colina,
Onde sepultamos amores acabados
Em lápides alinhadas,
Numeradas, assinaladas e frias.
Ou vivem todos, mesmo terminados,
Para o sempre criados e inesquecidos,
Todos os amores que tive
Ainda sentidos e tão eternos quanto eu.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

OS INTELECTERNAUTAS



Anda por aí cada figura!
Devem ter representantes em todos os segmentos da atividade humana, da gastronomia à filosofia, mas são mais freqüentes nas sessões de “Arte e Cultura” dos índices de blog.
Traço comum, são figuras com uma relativa bagagem de leitura geral e um irrelevante conhecimento técnico numa área qualquer que pode ou não ser enquadrada como “Arte e Cultura”, tanto faz. Compartilham todos da certeza de que qualquer conversação aceita a intromissão de um dito espirituoso cheio de mordacidade, ironia ou sarcasmo, quase sempre utilizando uma citação de obra da cultura pop, que acaba com a conversa por sua inconveniência.
Característica UM:
Sempre indicam um livro obscuro ou texto em língua estrangeira para você ler.
Nove entre dez adolescentes e pós-adolescentes julgam ser essa a forma correta de conversar, assim os assuntos se esgotam no mesmo tempo de um comercial de TV, pois costumam dialogar com esse aparelho, tecendo comentários rápidos sobre cada peça de publicidade, numa espécie de competição que tem como vencedor quem consegue o dito mais curto e a observação mais impertinente.
São blogueiros, em sua maioria. Usam esse espaço para cuspir o bolo que ruminaram, fazendo comparações e “disponibilizando” (ato da realeza ou do dono do poder, que consiste em dispor informações, serviços ou produtos de forma ou gratuita aos pobres súditos sedentos de suas benesses; esmola) aos seus visitantes o fruto prodigioso de suas longas meditações.
Apetrechados de sua grande experiência, de suas leituras pesadas e eruditas, bem como de suas qualificações acadêmicas e até de um ou dois livrinhos publicados, sentam-se diante de um teclado, abrem seus dublevê, dublevê, dublevê, dois pontos, barra barra asneira e derramam mensagens que irão constituir o grande universo de informação (mercadoria abundante, banal, sem valor, manipulada e manipuladora) do século vinte e um.
Característica DOIS:
Celebram o centésimo post em menos de um ano, como se quantidade fosse qualidade.

Imagine a figura por dentro, o que ele sente ao digitar. Parece feliz quando vê sua idéia transmutar-se em impulso elétrico, com a possibilidade real de se transformar em papel impresso num simples Ctrl/P. Manifesta sua interpretação sobre um fato jornalístico, sobre a morte de um escritor, sobre um livro que leu, sem a menor responsabilidade, protegido e impune pelo anonimato, para ser visto apenas por seus iguais, que, por sua vez, irão acrescentar chistes cheios de mordacidade, ironia e sarcasmo, tão curtos como a duração de um comercial de TV.
A frivolidade dessas figuras faz crescer em mim um sentimento que cresce no peito, sobe e me empalidece. É um tipo de dó dessa solidão. Tinha que inventar uma palavra para ela, pois não é bem solidão, é estranho estar só num mundo de comunicação instantânea, total e de possibilidades infinitas. Claro, não estamos sós quando vamos ver Batman em legião e conversamos sobre o filme. Ou quando lemos Harry Potter ou Crepúsculo ou Torre Negra. Compartilhar de um todo, como ao comer um “mac-feliz”. Só estamos sós quanto àqueles pensamentos originais, íntimos, que lutam por se manifestar num universo padronizador. Aí é que somos nós mesmos, escondidos sob muita cultura pop, sob nichos de pensamentos obtusos, tendo muito a aprender sobre lucidez para interpretar os fatos de forma clara e realista, despido de ideologias e antes de todas as manipulações. Aí é que teremos uma opinião decente sobre o que seja “Arte e Cultura”, ou o que seja, e lançamos ao mundo como uma definição transitória de nossa própria condição efêmera.
Característica TRÊS:
São incapazes de qualquer tipo de Empatia.
Essa figura, o intelecternauta, sofre dessa intersolidão, esse estado de ser internamente (internetamente) solitário, pois são irredutíveis em sua auto-referência. Sentir o que o outro sente, o poder da empatia, exige alteridade, capacidade se se colocar no lugar do outro -qualquer um- para conhecer o que ele sente e assim julga-lo de um ponto de vista mais abrangente.
Mas, cuidado, a empatia é uma maldição quando irreprimível.

Característica QUATRO:
Praticam e.bullying.
Você entra no espaço vital que reservaram para eles, os blogs, e imediatamente pode ter sua mala batida para o chão, ver seu boné voar de um lado para outro ou ter que entregar seu trocado para o lanche. Caso você não aceite  ENVIAR opiniões  bem manjadas e insossas que afaguem o ego. Se ousa contrapor ou acrescentar, pode se arrepender. (Será que já fiz isso com alguém aqui mesmo nesse blog?)
Meu erro foi ter entrado meio inocente em alguns lugares, achando que o blogueiro é cabeça e gente boa, para descobrir que é só mais um valentão.  Não está a fim de uma conversa proveitosa, nem de encontrar irmãos e muito menos de aprender. Só quer  aumentar a distância entre ele o o resto.

Inseguro, aprisionado em estreitos pensamentos, talvez queira impressionar quando precisa cativar.  Julgando-se imperfeito ou inapropriado, tenta passar uma imagem ideal mas só transmite um arremedo.  Tento, sinceramente, alteridade e empatia como forma de compreender. Mas nem por isso eles tem o direito de gastar a energia equivalente e ferver duas chaleiras de água e assim contribuir para o agravamento do efeito estufa, cada vez que acrescentam informações irrelevantes e observações presumidamente inteligentes às suas sombrias covas eletrônicas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dragan Martinovic, um Agente muito Sentimental

Andando por aí, tenho encontrado todo tipo de gente.
Quase todos procurando se encontrar. Como o menino que anda somando bonequinhos playmobil com jogo de futebol, criativo e adorável mas  ainda preso a clichês. Como a menina que não faz a mínima idéia de como é possível ser plenamente amada, esperando o cara certo que certamente é o oposto total do cara que ela pré-concebe, que Deus lhe dê alguém com a alquimia perfeita. Como tantos outros que só estão por aqui para criar alter-egos muito distantes de sua simplicidade.

Sem querer, também posso dar de cara com um artista absolutamente genial, daqueles que tiram a venda de nossos olhos e afinam nossa audição, como Peter Davies , escocês cheio de idéias e contra-ideologia, que faz pensar sobre a negação inserida em toda afirmação.
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Esses tempos, usei um trabalho de Dragan Martinovic para ilustrar a página "Poderes em Guerra", que se refere aos conflitos entra a Imprensa e o Legislativo depois crime de trânsito envolvendo o deputado Carli, aqui em Curitiba. Ele me flagrou e pediu que mencionasse seu nome. Ele já estava lá, quando pomos o mause na ilustração, surgia o título e o autor da obra. Mas mudei e dei o LINK para outros trabalhos dele, que são assombrosos.


Temática política por excelência, anti-americano (o que significa pacifista) por convicção. Nascido na Eslovênia, nunca seremos capazes de entender que diabos significa ser esloveno. Quais as privações que esse povo passou, quando integrava república socialista à força com servios e croatas? Todos esses povos desde sempre donominados "eslavos", ou seja, escravos.  Quão massivamente sofreu com as propagandas soviéticas anti-capitalistas? É difícil entender, para nós que sequer entendemos os gaúchos ou catarinenses, quanto mais os eslovenos!
Radical às vezes, usando as fortes tintas da arte para evidenciar uma situação ou abordar um tema, serve-nos perfeitamente como freio ao consumo indiscriminado e sem reflexão de produtos culturais americanos. Afinal, não houve globalização mas americanização do mundo, sendo necessário estabelecer limites e manter a mente lúcida contra a propaganda e o discurso opressor.
Esse é o papel de sua arte conceitual, direta como uma boa arte gráfica e sensível como a boa arte plástica.
Dragan
Dragan Martinovic
Dragan Martinovic


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Mapa Sentimental

Dona Arlinda, benzedeira santa, me disse uma vez que
Guarujá, São Paulo, 29 de dezembro de 2013
quem vai para a praia nesta época não descansa. Ao invés de descarregar suas energias negativas, acaba absorvendo a energia negativa do mar sobrecarregado.

Daí escrever esse post: 


Para traçar um mapa orgânico sensorial confiável do Planeta Terra, os técnicos costumam utilizar Fantasmas. Assim denominamos nossos aliados de Betelgueuse, pela transparência de seus corpos. São constituídos de matéria orgânica quase translúcida, composta exclusivamente de elementos nutritivos e cartilagens proto-ósseas, que lhes dá semelhança de gelatina. Recebem o apelido pejorativo de amebas humanóides, mas essa atitude só é comum àqueles que temem os seres muito diferentes. São especialmente valiosos por sua capacidade visual incomum, pois vêem as emanações mentais-emocionais de outros seres vivos e mesmo o resíduo desta tênue forma de energia que impregna ambientes e objetos que cercam esses seres vivos.

O Planeta Terra é habitado por seres que produzem emanações curiosamente intensas e os Fantasmas precisam utilizar lentes protetoras. Essa capacidade de emanar é sempre diretamente proporcional ao equilíbrio e autocontrole dos indivíduos de uma espécie: quanto mais passional e primitiva a fonte, maior a intensidade e dispersão de energias.

Nossos técnicos locais especulam que os Fantasmas também são capazes de sentir as emanações, além de enxergar. Talvez seja essa a explicação para que permaneçam sempre por curtos períodos de observação, logo retornando a seu próprio tempo/espaço. É difícil afirmar qualquer coisa quando nos referimos a Fantasmas, seus rostos são absolutamente vazios de qualquer expressão.

Resumindo os relatórios finais, realizamos alguns testes no nível micro-cósmico para calibrar nossa equipamento e estabelecer um espectro de cores para ilustrar a natureza das emanações. Escolhemos uma família padrão de cinco pessoas observadas discretamente e adaptamos os gráficos para demonstrar sentimentos através de cores. Desta forma, o estado de relaxamento e paz interior razoável é da cor verde. Os estados de alerta e de atenção normais são representados pela cor azul, enquanto os estados de desequilíbrio vão do amarelo ao vermelho, sendo essa a cor do máximo estresse a ponto de ruptura da sanidade do indivíduo.

Os resultados foram óbvios, comprovando obviamente a tese da razão direta entre as situações de conflito interno e interpessoal com as cores emanadas. Calibrado o equipamento e aprovado pelos Fantasmas, passamos à tarefa propriamente dita, usando nossos instrumentos de observação em órbita para análise do microcosmo particular: estabelecer o mapa emocional do planeta.

Todas as regiões do planeta são povoadas quase uniformemente, com maior concentração nos continentes três e quatro. Em todos os aglomerados urbanos os tons vermelhos são dominantes, demonstrando extrema tensão individual e social disseminada universalmente.

Apenas em duas pequenas cidades, a cor verde foi onipresente durante todo o período de um ano terrestre estabelecido pelos protocolos de pesquisa. Locais isolados, em continentes distintos e aparentemente comuns, fogem de forma tão completa ao padrão dominante que serão motivo de pesquisas específicas no futuro.

Eventos sazonais causam curiosas movimentações de massa humana e alterações nos padrões emocionais representados por cores.

Evento: Movimento em massa para as praias.

Hemisfério Sul do continente um, no início do verão.
As médias cidades distantes da costa marítima apresentam coloração geral no mais intenso vermelho demonstrativo da tensão de seus indivíduos. Quase ao mesmo tempo, esta população se desloca em massa para as cidades costeiras onde permanecem por alguns dias.


Ocorre um fenômeno estranho no oceano, que normalmente é indiferente à observação dos Fantasmas, pois permanece constantemente em verde e azul e não é objeto dessa pesquisa. Suas águas lentamente apresentam coloração mais tensa, iniciando perto da costa e se espalhando lentamente, até todo o oceano próximo se tornar intensamente vermelho. Enquanto isso, a massa de indivíduos apresenta cor azulada e, em alguns pontos isolados, atinge o equilíbrio verde. O fenômeno de transferência de energia para as águas do oceano é visível.

Contudo, há um momento de saturação do oceano, que parece ter capacidade limitada de absorção. Então, as tensões armazenadas são devolvidas aos indivíduos próximos das margens, não sendo possível determinar um padrão para esse fenômeno.

Indivíduos onde o alívio de tensões foi mais duradouro, voltam aos aglomerados urbanos onde perdem lentamente o equilíbrio conquistado junto ao oceano, configurando efêmeras ilhas de cor azulada em meio ao vermelho permanente.

As águas do oceano voltam lentamente à coloração verde-azulada, somente recuperadas completamente por força das correntes frias da estação seguinte, meses depois.


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Fixação de Sinapses Permanentes e Controle Social


O mecanismo de aprendizado é determinado pela formação de encadeamentos mentais. Aprendemos a língua materna de forma natural, aprendemos uma segunda língua com relativo esforço e uma terceira e quarta com facilidade cada vez maior, pois o encadeamento se fortalece pela repetição. É a mais evidente constatação do mecanismo de consolidação de sinapses nervosas, fenômeno fisiológico que ocorre quando nossos neurônios transmitem informações entre si.
Em todos os níveis mentais, assim estabelecemos tendências, preferências e comportamentos sensoriais. Marshall McLuhan, em seu livro “A Galáxia de Gutemberg”, refere-se ao ato de ler como comportamento apreendido, pois a facilidade com que lemos as letras da esquerda para a direita e uma linha após a outra determina a qualidade desse nosso hábito. Além desse, outros sentidos podem ser orientados e educados, como a audição. Ouvindo sonoridade cada vez mais elaboradas, podemos educar nossa audição e apreciar estilos cada vez mais eruditos, até a mais complexa e elaborada ópera.
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Padrões indesejáveis também podem ficar sedimentados. Por exemplo, uma criança habituada a horas diárias em jogos eletrônicos, geralmente musicados com ritmos primários e repetitivos, de baixa qualidade melódica e pior qualidade sonora, vai desenvolver uma irresistível preferência por esses mesmos padrões durante sua juventude e vida adulta, passado a preferir músicas tecno-eletrônicas geradas por equipamentos digitais e não por instrumentos naturais. Até mesmo a preferência pelo som despido dos graves e agudos extremos, eliminados quando um arquivo sonoro é diminuído para ser facilmente baixado, já foi detectada em pesquisas recentes. Um padrão foi consolidado, não admitindo outro para o sentido audição, seja no exemplo da exigência de um erudito ou do padrão popular mínimo.
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A especialização de neurônios e os encadeamentos mentais não é tese a ser provada aqui, pois é matéria de psicologia comportamental e educacional básica, exaustivamente difundida para além dos círculos acadêmicos. Mas sua aplicação é mais ampla do que podemos imaginar, estando impregnada em todas as nossas atividades diárias, naturais e onipresentes como o ar que respiramos e sequer notamos. Descrever cada ação do ato de dirigir é quase impossível, por exemplo. Pode ser identificada com um mínimo de acuidade. É só parar e observar, questionando preferências e identificando tendências que introjetamos em alguma fase de nossas vidas. Ou que nos foram impostas.
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Essa é a questão: As sinapses nervosas podem ser consolidadas para atender a interesses?
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Não necessariamente malignos, dignos de uma delirante teoria de conspiração, mas bem prosaicos, como a associação de cores e sons a um produto comercial, desenvolvido pela publicidade. Ou nossa preferência por filmes americanos, uma língua que mal entendemos, mas selecionamos ouvir por ser tão familiar enquanto lemos a legenda. Por falar nisso, estamos tão massificados pelo hábito, que esse é o mal do cinema nacional: não tem legenda para ler.
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Há uma ciência em desenvolvimento, chamada Neuro-Reprogramação, ainda meio na metafísica e tão respeitada quanto remédios florais, que procura resposta para essas questões, ambicionando estimular bons hábitos e novos comportamentos, desativando hábitos indesejáveis ou limitadores, mas permanece na questão pavloviana, sem encarar o funcionamento desse mecanismo no âmbito social.
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Por décadas, neurocientistas acreditaram que os neurônios eram os responsáveis por toda a comunicação no cérebro e sistema nervoso e que as células gliais, embora nove vezes mais numerosas que os neurônios, apenas os alimentavam.
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Novas técnicas de imagem e instrumentos de “escuta” mostram que as células gliais se comunicam com os neurônios e umas com as outras sobre as mensagens trocadas pelas células nervosas. As células gliais são capazes de modificar esses sinais nas fendas sinápticas entre os neurônios e podem até mesmo influenciar o local da formação das sinapses.
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Devido a essa proeza, as células gliais podem ser essenciais para o aprendizado e para a construção de lembranças, além de importantes na recuperação de lesões neurológicas. Experiências para provar isso estão em andamento.
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Perceber a influência da comunicação de massa, seu enorme poder de persuasão através de diversos mecanismos de convencimento, intimidação e ilusionismo, tão potentes que afetam nosso princípio de realidade. Dar-se conta de que diversos extratos da sociedade têm visões do mundo tão diferentes entre si que a própria realidade é relativa. Por falar nisso, “real” é tudo o que emana do “rei”, da autoridade máxima, conduzindo nosso comportamento e préconceituando o universo ao nosso redor.
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O que move você?

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Atualizo o post:

Neuromarketing é uma piração do mercado, travestida de ciência que estuda a essência do comportamento do consumidor, ou seja os analistas de marketing esperam usar o neuromarketing para melhorar as métricas de preferência do consumidor.

sábado, 28 de novembro de 2009

O Homem Perfeito

Como é o Homem Ideal?
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Karl Marx codificou uma obra que assustou tanto o mundo capitalista do século 19 que surgiram as leis trabalhistas e todos os critérios que salvaram crianças da exploração e deram aos adultos direitos básicos, como jornada de trabalho limitada e descanso semanal. Ele imagina o homem ideal como indivíduo livre, produtivo e criativo,ou seja, senhor do próprio processo de produção.
Sob uma perspectiva completamente diferente, Adam Smith e seus seguidores do Capitalismo compartilham dessa opinião.
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Sigmund Freud fez descobertas que esclareceram o comportamento humano, enfrentando poderosos tabus universais como infância, sexo, ditadura do meio sócio-cultural e pressão do subconsciente. Para ele, o homem ideal é aquele que conquistou a auto-consciência e a consciência do seu meio, trafegando sem atritos por seus mundos interiores e em harmonia com o mundo externo. Complementado por Young, sua dimensão é total, incluindo auto-consciência espiritual.
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Marshal Mcluhan foi o primeiro ou mais importante primeiro pensador e crítico dos meios de comunicação de massa, sonhou uma "aldeia global" e militou por reformas no sistema educacional que, se efetivadas, conduziriam as pessoas ao conhecimento pleno. Mas, foi vencido, pois pregava que a educação é processo de formação de caráter e não de treinamento de mão de obra. Crítico feroz da escola tradicional, o autor canadense aponta os defeitos do sistema atual, que, segundo ele, prefere criticar a mídia, em vez de utilizá-la como aliada na educação. "Poucos estudantes conseguem adquirir proficiência na análise de um jornal. Ainda menos têm capacidade para discutir com inteligência um filme." Irônico, afirma que "a educação escolar tradicional dispõe de um impressionante acervo de meios próprios para suscitar em nós o desgosto por qualquer atividade humana, por mais atraente que seja na partida". Para Mcluhan, o homem ideal é aquele que se tornou impermeável à influência das mensagens pela solidez e abrangência de sua educação.
Outros pensadores compartilham desta visão, como Bertrand Russel, Fritjof Capra e Rousseau.
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Adolf Hitler não descreveu o “homem ideal”, mas o “indivíduo ideal¨. Para ele, seria o produto perfeito de um processo de eugenia, representando os ideais de inteligência e perfeição física da raça ariana, sob a qual todas as outras raças estariam subjugadas. É o indivíduo fim em si mesmo.
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Jesus Cristo, Maomé e Buda, homens ideais, buscavam o “ser humano ideal” entre nós animais. O homem perfeito é o animal humano que deveria humanizar-se para depois tornar-se Jesus Cristo, Maomé ou Buda. Esse é o ideal de todos os messiânicos, de todos os alquimistas que já existiram e de todo Mago de verdade. Transformar o chumbo da carne em ouro do espírito, morrer e renascer para a vida eterna, sair da diversidade para a unidade. À sua maneira, Jean Paul Sartre vai pelo mesmo caminho quando afirma que ser homem é tender a ser Deus.
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Sócrates idealiza o ser humano ideal como alguém que não se expõe desnecessariamente ao perigo, uma vez que são poucas as coisas com que se preocupa o suficiente; mas está disposto, nas grande crises, a dar até a vida sabendo que em certas condições não vale a pena viver. Está disposto a servir aos homens, embora se envergonhe quando o servem. Ele não toma parte em manifestações publicas. É franco quando a suas antipatias e preferências, fala e age com franqueza, devido a seu desapego pela desejos dos homens e coisas. Nunca tem maldade e sempre esquece e passa por cima das injustiças. Não gosta de falar. Não lhe preocupa o fato de que deve ser elogiado ou que outros devam ser censurados. Não fala mal dos outros, mesmo de seus inimigos, a menos que seja com eles mesmos. Seus modos são serenos, sua voz é grave, sua fala e comedida; não costuma ser apressado, pois não acha nada muito importante. Uma voz estridente e passos apressados são adquiridos pelo homem através das preocupações.Ele suporta os acidentes da vida com dignidade e graça, tirando o máximo proveito de suas circunstâncias, como um habilidoso general conduz suas limitadas forças com toda a estratégia da guerra. Ele é o melhor amigo de si mesmo e se delicia com a privacidade, ao passo que o homem sem virtude ou capacidade alguma é o pior inimigo de si mesmo e tem medo da solidão.
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Emmanuel Kant propõe a formação de um ser humano ideal, estabelecendo a disciplina e a coação como pressupostos fundamentais no processo de educação. Mediante o rigor, a coação e a obediência levará a formação do caráter dos indivíduos. Segundo Kant, a disciplina e coação são apresentadas como fundamento necessário para a liberdade e a moral. A autonomia, princípio básico do bom uso da razão, depende da saída da menoridade, quando o ser humano não se encontra esclarecido.
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Stephenie Meyer não aceita a idéia de que seus vampiros sejam projeções de um ser humano ideal que deveria ser admirado, mesmo vivendo eternamente, pois deixam de ser humanos quando se transformam. Para ela, o ser humano ideal é aquele que está comprando um livro dela e milhares de escritores comerciais também pensam assim.

Pior do que criticar os livros de Stephnie, é gostar de ler os livros dela. 
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Leonardo da Vinci partilhava do ideal de universalidade renascentista, de que o ser humano ideal era o homem que conhecia todas as ciências e todas as artes.
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Confúcio idealizava aquele que conseguia a virtude perfeita, que chamava de "homem perfeito" ou "cavalheiro". Essa qualidade humana superior consistia na sinceridade, na moderação, na justiça, na fidelidade à natureza, na lealdade. Era, em suma, o zen, que, ao contrário do que pretendia a aristocracia feudal, não vinha do berço, mas se conquistava mediante permanente autocontrole e disciplina.
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Max Scheler , filósofo que já nasceu dispondo da língua perfeita para filosofar por suas infinitas possibilidades semânticas, a alemã, sonha que o herói é o ideal humano (como o santo e o sábio) que possui, em ordem decrescente, cinco valores fundamentais: santidade, brilho intelectual, nobreza, utilidade e capacidade de ser agradável. Segundo ele, o “herói é um tipo de pessoa ideal, com o centro de seu ser fixado na nobreza do corpo e da alma". Suas análises abrangem os mitos de super-homem, cartoons e HQ's com uma sagacidade exemplar.
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Arnaldo Jabor confunde o "macho perfeito" com o homem perfeito, numa crônica de sucesso. Reduz uma boa discussão filosófica ao estreito perfil do metrosexual cordial e domesticado. O estranho é que as mulheres adoram o tipo canalhão, quantas já não trocaram uma vida estável pelo primeiro bombado num conversível vermelho...
Pior do que não gostar do Jabor é ter que concordar com o que ele diz.

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To be continued...

sábado, 7 de novembro de 2009

Vivi no Melhor Mundo

Quando vejo como vivem meus filhos, me dá uma tristeza enorme.
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Era descomplicado, entendem? Sem televisão, sem jogos eletrônicos, sem telefone, sem nenhum perigo de encontrar violência. Nenhum complicador além de jogar bola, explorar os arredores, andar de carrinho de rolemã, brincar de coubói, ver matar e destrinchar um porco, aproveitando cada pedacinho. Nenhum perigo além de ser pego comendo uvas e morangos ainda verdes, meter fogo numa cerca (dois dias e uma noite escondido no galinheiro depois dessa - e todos sabiam que eu estava lá e deixaram!) ou rasgar a perna num espinho.
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Anos depois, conheci Curitiba como jamais. Cidade ainda mensurável, com começo e fim. Hoje, não termina, começa de novo em outra. Hoje, curitibanos não moram nela.  Andava por ela de moto, dando para contar quantas haviam na cidade, hoje é um caos e ser motoqueiro é sinônimo de crime ou baixaria de motobói. O romantismo e o espírito easy rider (aqueles dois traficantes) morreu.
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Ninguém falava em "efeito pantufa", a Amazônia era um imenso território a ser conquistado e as estações sucediam-se exatamente como dispostas no calendário. Nas enciclopédias, descreviam as baleias como fontes de alimento e gordura, mostrando-as heróicamente caçadas e retalhadas para nossa fruição. Os jacarés eram descritos como fonte para bolsas, sapatos e cintos. O verbete para "elefante" mostrava um caçador prestes a ser atropelado, com uma enorme carabina apontada para o ponto entre os olhos do animal. Mais abaixo,  ilustrações com delicadas obras de arte feitas com o marfim.
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O mundo ainda era grande. Um grande campo de caça com enormes florestas a serem epicamente conquistadas e dobradas à nossa vontade , pois eram lugares sombrios e perigosos, onde morava a bruxa malvada, onde o lobo comia menininhas e onde você podia se perder para sempre. Assim aprendi, através de fábulas infantis.
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O mundo era grande demais, perene demais. Só sabia das notíciais relevantes, que realmente importavam. Lembro de minha mãe gritando da janela "o Kennedy morreu" e eu, brincando debaixo das pereiras, olhei em volta e vi o vento cessar de todo e uma estranha imobilidade, uma expectativa sobrenatural, paralisar as árvores por um longo momento. Era 22 de novembro de 1963 e eu tinha seis anos e meio. Pois as pequenas notícias não circulavam, nem eram superdimensionadas por milhões de mídias, muito menos causavam a histeria das pessoas por pouca coisa. Hoje, um joguinho qualquer sem importância é tão minuciosamente explorado pelo jornalismo esportivo que gera guerra entre torcidas, causa tumulto e danos ao patrimônio público, pois o menor estímulo faz explodir a vida insossa da rapaziada e todos os impulsos de aventura, prazer e experimentação que a vida na cidade sufoca.
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Estou ficando velho! Fico dizendo que época boa era a minha. Mas posso comparar os momentos que vivi com aqueles que estou vivendo e não vejo como poderia fazer agora as mesmas coisas que fazia quando menino. Muito menos proporcionar a meus filhos vivências semelhantes.
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As grande propriedades de meus avós foram expoliadas pelos seus filhos, divididas e subdivididas até virar um monte de casinhas insípidas. A cidade fagocitou os campinhos e as plantações. Ninguém mais faz fumo de corda no galpão da casa, nem mutirão para debulhar o milho para as galinhas, nem é possível cruzar a cidade a pé para visitar a namorada.
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Tudo sem culpa e sem medo, naquele tempo. Nenhuma conseqüência em emitir gases nocivos ao gastar gasolina e  lixo era apenas lixo. Só comer codornas e perdizes, tucanos e tatus caçados por meu pai. Sem problemas com a Lei.
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Sem dúvida, vivi no melhor mundo possível.